É lastimável, por assim dizer, mas o drama da seca no Piauí este ano pode servir de “prato cheio” para os humoristas - em nível estadual e nacional – acrescentarem nos shows e programas televisivos mais um capítulo anedotário sobre o estado. Por incrível que pareça, os governos (federal/estadual) vieram achar a solução para dirimir o sofrimento dos famintos da seca num espaço de tempo equivalente há nove meses.Coincidência ou não, esse é o tempo de gestação de um ser humano no útero da mãe. Em meio às disputas pelo domínio dos recursos: estado (defesa civil) e o exército, o tempo foi passando, a fome foi aumentando e humanos e animais morrendo por conta dos efeitos da estiagem. Parece hilário, mas é o que está acontecendo no Piauí.
A chuva já chegou à região de São Raimundo Nonato, no entanto, os carros pipas parecem até que surgiram de um passe de mágica e estão circulando nas estradas da região como se fossem carros de passeios transitando nas rodovias que ligam São Paulo ao litoral em dia de feriado prolongado.
Em viagem recente a nove municípios daquela região pude constatar o fato. Somente de São Raimundo Nonato para Fartura do Piauí – municípios separados por apenas 70 quilômetros – a nossa comitiva cruzou por esse caminho com quatorze carros pipas transportando água. Apesar de servir apenas como um paliativo esses carros deveriam está realizando esse serviço antes de acontecer às mortes.
Em conversa informal com um grupo de moradores do município de João Costa - um dos mais castigados pela estiagem - fui informado por um deles que na localidade denominada São João Vermelho, neste ano até passarinho morreu de sede na comunidade, que dista apenas 25 quilômetros da sede.
Mas, uma cena que considero hilária e ao mesmo tempo cruel, foi vista em São Braz do Piauí, na mesma região. Nesse município, cerca de setecentas cestas estão sendo preparadas para serem distribuídas entre as vítimas da seca. Pasmem e observem meus caros humoristas: olhem a composição das cestas enviadas pela Conab (órgão do governo federal). Itens: quatro quilogramas de arroz; cinco de feijão; cinco de milho e duas rapaduras.
Até aí tudo bem! Como gosta de dizer o apresentador Amadeu Campos. No entanto, meus caros humoristas, o arroz veio de Irecê da Bahia, com cascas. Segundo o cidadão encarregado de confeccionar as cestas, o arroz seria beneficiado (pilado) por conta da prefeitura municipal, que ia gastar em torno de R$ 4 mil. Já o milho seria entregue aos sertanejos do jeito que tinha chegado: em caroços.
Veja vocês como a fome não agüenta esperar! Este mesmo material chegou ao município de Várzea Branca, mas o povo não esperou pelo trabalho da prefeitura em organizar as cestas. Revoltados, invadiram o depósito e levaram tudo. Infelizmente são histórias verdadeiras que estão ocorrendo em nosso estado, incrivelmente no século 21.
Artigo de autoria do Jornalista Jânio Pinheiro de Holanda