O encontro mais importante da Articulação no Semiárido Brasileiro foi realizado esta semana em Juazeiro da Bahia. O VII EnconASA , que aconteceu dos dias 22 a 26 de março, teve o objetivo de discutir políticas publicas voltadas para o semiárido e fortalecimento das experiências de convivência com a região. Uma delegação do Piauí composta por 21 pessoas participaram do encontro, são agricultores, comunicadores e coordenadores das instituições que formam o Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido, que representaram o Estado e levaram suas experiências para compartilhar com as delegações dos demais Estados do Nordeste e Minas Gerais.
O Encontro Nacional da Articulação no Semiárido, também comemorou os dez anos da Asa e do trabalho desenvolvido na região semiárida brasileira. Alguns agricultores deram seus depoimentos e ressaltaram a importância da Asa nesses dez anos para a mudança da realidade na região. Depoimentos como o da agricultora Delzuíta Ferreira que relatou a realidade da sua comunidade antes e depois das ações dos programas de convivência com o Semiárido, “há vinte anos, nós mulheres do Semiárido tínhamos que andar com o pote na cabeça para buscar água. Quando a seca era muito grande eu tinha que dar água salgada da cacimba para minha filha beber e ela me pedia para colocar açúcar, pois, não conseguia engolir. Hoje, depois da ASA e suas organizações, já temos água para beber. A luta agora é pela água para produzir e poder manter o jovem no campo”, ressaltou a agricultora.
A tarde do segundo dia (23) do EnconASA foi marcada por uma caminhada, que reuniu cerca de 4 mil pessoas pelas ruas de Juazeiro-BA,segundo a Polícia Militar. Durante o percurso, houve uma saudação ao rio São Francisco, onde foi ressaltada a importância de preservá-lo.
Sete grandes temas foram escolhidos para serem debatidos durante o encontro, são eles: Acesso à Terra, Acesso à Água, Educação Contextualizada, Economia Solidária, Auto-organização e Direitos das mulheres, Segurança Alimentar e Nutricional e Biodiversidade. O Piauiense João de Deus, Coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas, através da Unidade Gestora Territorial Caritas Regional, ministrou a oficina de Educação Contextualizada. Para ele um tema importante, visto que para mudar a realidade do semiárido a educação é a peça principal, “é necessário organizar um processo para descobrir saberes e construir conhecimento a partir da comunidade. Debater esse tema no EnconASA é uma necessidade porque é a oportunidade de articular as entidades para a discussão do tema”, diz.
Para a agricultora piauiense Maria Ierene, do Quilombo Potes em São João da Varjota, a educação voltada à realidade das comunidades é algo que já deveria está acontecendo “ meus filhos vão a escola e aprende uma realidade bem diferente da vivida lá, essa idéia de trabalhar a educação no campo para o campo é a educação certa e não uma que ensina eles coisas que eles nunca vão viver”, diz.
Varias autoridades participaram das plenárias entre elas, o coordenador da ASA, Naidison Baptista, o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena e o presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Renato Maluf, Maria Emília Pacheco, diretora da Federação de Órgãos para a Assistência Educacional e Social (FASE), Ivo Poletto, assessor de pastorais e movimentos sociais entre outros.
Durante a plenária Relação Estado e Sociedade Civil na Construção de Políticas Públicas, realizada na quinta-feira (25), o Secretário Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Crispim Moreira, anunciou a publicação, no Diário Oficial da União, do termo de parceria com a ASA, no valor de R$ 60 milhões. Com o novo projeto, serão construídas mais de 30 mil cisternas.
“Felizmente, trouxemos a notícia de que conseguimos superar todas as dificuldades que foram colocadas esse ano, devido à Lei de Diretrizes Orçamentárias, que o Congresso aprovou e que dificultavam os recursos para operacionalizar com as parcerias com a ASA. Saímos fortalecidos de forma que a cisterna possa ser um bem que chegue a todas as famílias que precisam, no mais curto espaço de tempo”, reforça Crispim.
No encerramento do VII EnconASA foi lida a Carta Política do Encontro que afirma o paradigma da convivência com o Semiárido e se contrapõe ao modelo hegemônico e conservador. A convivência com Semiárido, defendida na Carta do Encontro, “tem em sua centralidade a vida humana e como pilares os valores da sustentabilidade, da cidadania, entre outros,” afirma Carlos Eduardo Leite, coordenador da ASA Bahia. O documento final da sétima edição do EnconASA cobra dos gestores políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável do Semiárido.
Por Paula Andréas
Fotos: ASAcom