22 de agosto de 2010

Dilma, a futura mãe dos brasileiros

As recentes notícias sobre as declarações da candidata Dilma Rousseff ao intitular-se "mãe de todos os brasileiros", retrata a fiel realidade de dependência da população carente ante aos desígnios impostos por aqueles que desde a redemocratização do país comandam a Nação brasileira.

Será que a candidata não está querendo impor – se eleita - uma hierarquia institucional generalizada, com a obediência formal da população às suas ordens? Ao que sabemos todo e qualquer cidadão tem o direito livre e constitucional de ir e vir, desde que cumpra as leis. Além disso, penso eu, todo muito está satisfeito com a mãe e o pai que teve e não pretende colocar ninguém em seu lugar. Pelo menos, é o que “reza” o senso comum.

O Brasil amadureceu. Não precisa ser uma sociedade infantilizada. Querem infantilizar os brasileiros com essa história de pai e mãe", disse a candidata Marina Silva no debate Folha/UOL, que reuniu ontem os três candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas eleitorais.

Um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Pernambuco oferecera, na véspera, mais um exemplo daquilo que a postulante do PV, com acerto, criticava. "A palavra não é governar", anunciou, ao repisar o tema. "A palavra é cuidar. Eu quero ganhar as eleições para cuidar do meu povo como uma mãe cuida do seu filho."

Em ato falho, a frase condensa o presidente e a candidatura por ele inventada. Dilma Rousseff “c'est moi”, admite afinal o petista. "Mãe" e "pai" dos brasileiros se fundem na mesma figura mistificadora. A declaração revela mais do que o entendimento de Lula sobre o processo sucessório. A apresentação da política em termos característicos das relações privadas e familiares termina por desvirtuá-la, ao negar o caráter igualitário da esfera pública.

O princípio de igualdade entre os cidadãos deve valer também para seus dirigentes, escolhidos pelo voto. Não pode haver relação hierárquica, do ponto de vista político, entre o mandatário de turno e o conjunto de eleitores. Compete a todos obedecer apenas às leis.

A figura paterna, ao contrário, pressupõe uma relação de superioridade com os filhos. Os laços cordiais, de afeto e de "cuidado" contidos na imagem proposta por Lula mal disfarçam a herança patrimonial e autoritária da política brasileira. A metáfora ecoa a tutela populista exercida sobre as massas recém chegadas à cidade em meados do século passado. Contradiz os princípios impessoais republicanos. Faz pouco do cidadão -que não precisa de atenções paternais ou maternais, mas de respeito a seus direitos. O discurso retrógrado e conservador serve muito bem às circunstâncias fabricadas por Lula. Induz a uma avaliação da candidatura de Dilma por critérios outros que não os da vida pública”.

Um trecho dessa notícia publicada na Folha revela que a
"caridade gratuita" ou populismo e a Bolsa-Família, é sabidamente uma tábua de salvação para muitas famílias efetivamente carentes. Portanto, na minha humilde opinião, seria mais salutar a candidata Dilma prometer a “seus filhos” ajudá-los na formação de caráter preparando-os para serem cidadãos úteis quando se formarem e ingressarem no mercado de trabalho. Para isso, o primeiro passo seria a erradicação ou pelo menos a diminuição do índice alarmante de analfabetismo existente no país. Isso melhoraria bastante o atual triste quadro que vemos por aí.

Jânio Holanda - Jornalista