3 de outubro de 2010

O Difícil Cenário Político Eleitoral


Nas eleições 2010 pelo menos uma coisa vem se tornando cada vez mais evidente para o eleitor e a população piauiense: a vaidade política eleitoral dos candidatos tradicionais querendo chegar ao poder a qualquer custo. Inclusive com muitas denúncias de compra de voto. Mas o que não se vê mesmo é ninguém preso por esta prática, pelo menos não se tem notícia concreta a esse respeito.

Outra coisa que se observa nestas eleições é a maneira como os candidatos tradicionais se dirigem ao eleitor para pedir o voto. Eles não dialogam com a sociedade e muito menos com o eleitor. Vejamos alguns exemplos: eu sou candidato a Deputado Federal, aprovei na câmara cerca de quinze milhões em emendas para a construção de obras no Piauí, por isso conto mais uma vez com o seu voto. E o outro: na minha gestão todos receberam seus vencimentos em dia. A tabela de pagamento era rigorosamente em dia, por isso quero seu voto para continuar ajudando no desenvolvimento do Piauí.

É ridícula essa forma de pedir voto ao eleitor. É como se o eleitor tivesse devendo favor ao candidato. É sem dúvida a velha política do favor presente no nosso dia-a-dia. O cidadão passa quase 8 anos à frente da gestão da educação e só dá para trás, pede ilegalidade de greve, não negocia com os professores, acaba com a data base de maio, veta os reajustes, reduz os níveis de todos os professores, congela a regência de classe, paralisa as aposentadorias, além da enorme confusão no ensino de tempo integral.

Por que isso? Porque adotou-se uma forma de governar voltada para a obtenção de dividendos eleitorais, em detrimento do interesse público. Agora aparece esse cidadão no horário eleitoral dizendo que quer ser o senador da educação. E você que é trabalhador em educação, ganhando R$ 1.024,00 de vencimento, trabalhando muitas vezes em três estabelecimentos de ensino para poder sobreviver, vai acreditar em mais uma promessa desse mal jogador do time do falso desenvolvimento? Preste bem atenção no cenário político eleitoral. As palavras dos candidatos tradicionais são sempre as mesmas, projeto, oportunidade, empreendedorismo, qualidade de vida e desenvolvimento. Essa última tem sido a matriz da mentira do governo do falso desenvolvimento, tanto a nível local, como nacional. Talvez muitos deles não saibam o significado etimológico destas palavras. De modo que essa retórica dos candidatos tradicionais não passa de mais uma embromação de época de eleição.

Fique atento, após as eleições é possível que você não ouça mais falar em nada disso. Mas eu penso que boa parte da sociedade já sabe que a grande maioria dos candidatos tradicionais não defendem e não têm compromisso com o povo, apesar de falarem muito em povo. No mínimo eles querem se eleger ou se reeleger para defender seus grupos e suas famílias e, ao mesmo tempo, assegurar poder, capital e lucro para permanecer no poder.

É só você fazer a leitura da realidade atual. O PT e o Lula que por muito tempo defenderam a classe trabalhadora e se identificavam perante a sociedade como a esquerda mais radical e correta politicamente, resolveram abandonar o projeto de sociedade socialista que tanto se falou ao longo da construção deste partido. O PT e o Lula não foram capazes de esperar e se organizarem junto aos trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar este grande desafio que é a construção da sociedade socialista. E de forma vergonhosa, ridícula e traidora se incorporaram de corpo e alma aos partidos tradicionais burgueses que ao longo da história do nosso país massacraram a classe trabalhadora.

Tudo isso, com o intuito de chegar ao poder a qualquer custo e garantir a governabilidade com todos e com todas as formas detentoras do poder, do capital e do lucro. Aliás, o PT e o governo Lula já demonstraram que não querem fazer as reformas necessárias e urgentes para começar a tirar a classe trabalhadora da miséria em que vive, começando com as reformas agrária, urbana, tributária e judiciária.

Não restam dúvidas, o Lula teve toda uma trajetória de luta junto à classe trabalhadora brasileira, sobretudo na região do ABC paulista, como torneiro mecânico e sindicalista nas fábricas. Isso não se pode negar. Entretanto, a ganância e o fascínio pelo poder associada às alianças com as elites burguesas acabaram lhe tirando o fraco compromisso que tinha com a classe trabalhadora.

A leitura que faço do PT e do governo Lula durante esses 8 anos de mandato, é que Lula fez tudo que os patrões, os banqueiros e os ricos de fato queriam. Convenceu a classe média com o falso discurso do desenvolvimento e iludiu os pobres e mais humildes com políticas emergenciais, como a famosa bolsa família e outras. Só que comer por si só não liberta. Ao contrário, pode até acomodar as pessoas. Esse é o grande problema. E agora, o que resta aos trabalhadores e trabalhadoras? Só votar? Claro que não! Penso que aqueles e aquelas que ainda acreditam na construção de uma sociedade socialista, precisam urgentemente reerguer a cabeça, retomar e reorganizar as nossas lutas, redes de instituições, organizações populares, federações, sindicatos, associações de bairros, grupos extra-partidários, grupos de mulheres, negros e indígenas, enfim, os movimentos sociais.

Tudo isso no sentido de fortalecer a nossa vida política e a democracia no nosso país. Temos que entender mais e melhor a política, inclusive a dos partidos. Sem entender política, não mudaremos nada nunca. Mas isso se faz com profunda inserção e participação nas lutas gerais do povo. O aperfeiçoamento e o destino democrático de nosso país pouco depende do parlamento. Se continuarmos com pouca disposição de mobilizar, formar e organizar a classe trabalhadora estaremos todos fadados a conviver cada vez mais com os mensalões, tráfico de drogas, prostituição, corrupção e muita promiscuidade entre os poderes.

Alborino Teixeira da Silva 
Professor da Rede Pública Estadual do Piauí