Artigo de autoria de Geraldo Filho - Sociólogo, Bchl e MSc: professor do CMRV/UFPI
Acabou 2010! Festejaram o natal, o ano novo, fizeram confraternizações, presentes, abraços, beijos, votos de saúde e paz e... e aí minha consciência chocou-se com a fugacidade do tempo por detrás dos sorrisos e dos brindes, dos foguetes e das músicas... tudo isso é uma luta inconscientemente desesperada, que tem como objetivo encobrir a tragédia da vida para a qual todos nos destinamos: o seu fim.
A chave para a compreensão do humano durante sua existência é a percepção do tempo que se esvai, sem retorno. Tentamos nos opor a esta força massacrante, que deixa sua marca no envelhecimento das coisas a nossa volta e em nós mesmos. Reformamos ou consertamos tudo, até a nós nas clinicas e academias, mas... mas infelizmente a vitória será do tempo.
Diante de mim dois livros me dão alento nessa hora, para a dor desse reconhecimento, não que eu não desconfiasse da falta de sentido da vida, Epicuro havia me mostrado esse caminho faz tempo, mas Sêneca (A Brevidade da Vida) e Luís Felipe Pondé (Contra um Mundo Melhor) ampararam-me nesse momento decisivo de olhar para o abismo da existência.
Toda a história humana passa no cinema da minha memória desenvolvendo uma única trama, a eterna repetição do mesmo filme: a procura incessante, por todas as sociedades, por preencher de sentido, seja ele humano ou divino, aquilo que não tem sentido.
Como pode ter sentido tudo o que se construiu e se destruiu; as batalhas de cada um em que se venceu e se perdeu; as pessoas a quem tanto se amou, pais, companheiros e filhos se... se nada disso ficará, pois tudo passará?!
Hoje compreendo que toda essa luta é vã, e ilumina-se, para mim, o entendimento da encenação da civilização humana como uma tentativa agônica de não contemplar o abismo, ou se contemplá-lo enxergar nele o paraíso das religiões.
Agora eu não sei mais o que sou, palavras que designam o que eu faço profissionalmente tais como cientista social, sociólogo, cientista político, antropólogo nada significam. Talvez conhecedor se aproxime mais da verdade do que sinto.
Eu necessito de viver, pois o acaso biológico me imputou responsabilidades, por isso continuo a fazer parte do teatro universitário. Meus alunos podem se beneficiar disso, porque o peso do conhecimento do que é a “vida” faz com que eu possa protegê-los deles mesmos.
Eles podem começar a refletir tomando como ponto de partida, por exemplo, o acaso biológico do nascimento. Um dia, numa aula, lhes direi que eu e vocês somos o resultado de uma ejaculação que lançou mais ou menos cinco (05) milhões de espermatozóides numa batalha selvagem pela sobrevivência. Pensem em quantas ejaculações um homem tem ao longo da vida, multipliquem por cinco (05) milhões... eu e vocês nascemos no confronto com centenas de milhões de outros que poderiam ter sido, no entanto perderam-se para sempre nas ejaculações de nossos pais. Não estou levando em consideração a média de 420 a 504 ovulações das mães, que tornariam o cálculo de probabilidade muito mais complexo. Quer mais sobre o acaso do nosso nascimento?!
É hora de voltar para as comemorações de final de ano. Elas se repetirão em 2011 e por todos os que virão. Durante o ano muitas outras ocorrerão: carnaval, semana santa, festas juninas, etc. Provavelmente participarei de todas elas... mas eu sei que estarei bebendo e dançando em um vazio de sentido.