Os alunos do Curso de Psicologia informam à comunidade que a partir do dia 21 de março de 2011 paralisou suas atividades por motivos de escassez de recursos para a formação de qualidade dentre os quais vale citar:
- Falta de professores que implicam atualmente em 18 disciplinas e prejudicam a orientação dos trabalhos de conclusão de curso e todos os períodos existentes.
- Falta mobília na Clínica/Escola.
- Falta de testes psicológicos.
- Carência de livros para todos os períodos.
- Falta de laboratórios para as práticas do curso.
Em vista dos problemas citados, informamos que estamos seguindo com nossas manifestações e contamos com apoio e colaboração de toda academia, já que esses problemas atingem tanto a nossa formação quanto a comunidade que deixa de usufruir serviços de qualidade.
Atenciosamente,
Coordenação de Comunicação do Centro Acadêmico do Curso de Psicologia
PROGRAMAÇÃO DA PARALISAÇÃO
21 de março de 2011
08h – convocação de todos os estudantes a aderirem ao movimento;
10h – Abertura oficial da paralisação do curso de psicologia da UFPI – CMRV
– Manifesto de Protesto Já.
– Confecção de material e organização da programação.
14h – Protesto em via pública (Os estudantes foram a avenida com vestimentas e balões pretos a fim de expor à comunidade o início da paralisação).
22 de março de 2011
08h – Manifesto de protesto silencioso dentro do auditório da UFPI – CMRV durante a recepção dos calouros feita pelo diretor do campus.
10h – Abraço simbólico a biblioteca (os estudantes fizeram uma corrente para protestar pela falta dos livros).
15h – Apresentação da Clínica/Escola a todos os alunos do Curso de Psicologia com intuito de conhecerem as falhas nas instalações e a falta de material necessário pra seu funcionamento (mobília em geral, testes psicológicos, brinquedos etc.)
16h – Reunião com o diretor e um dos coordenadores administrativos do Campus com objetivo de negociação e uma possível reunião com o Reitor da UFPI.
23 de março de 2011
08:30h – Protesto pela falta de professores no curso. Os alunos irão ministrar aulas das disciplinas que estão sem professor em frente ao auditório da UFPI.
15h – Passeata de todos os estudantes na Avenida São Sebastião.
24 de março de 2011
8:30h – Reivindicação de nossos testes psicológicos.
A programação poderá sofrer mudanças, como também se estender de acordo com o pronunciamento do Reitor diante de nossas reivindicações.
Parar é um movimento
Queridos alunos (as) do Curso de Psicologia, novos e veteranos companheiros de instituição, passamos e vivemos no estante do agora, por uma mobilização, por um movimento, que paradoxalmente solicita a compreensão de todos para o ato de PARAR, paralisar, não mover. Como podemos falar de movimento, luta, reivindicação dos direitos, se exigimos a interrupção de nossas atividades? É estagnado e estático, que o tempo passa, a ferrugem e o germe decompõem e tornam pó todas as coisas.
É parando que iniciamos o nosso movimento, é silenciando e pondo-se em luto que simbolizamos o descaso com a nossa formação superior. Quantas vezes para suprir a carência desta instituição doamos, disponibilizamos e reconstruímos nossa formação. Me pergunto quantas aulas vistas a pressa, quantas noites sem dormir, quantos livros xerocados, quanto tempo longe de nossos familiares, teremos que suportar para remendar os vácuos da nossa formação?
Já que os defeitos são evidentes e os esforços de professores e alunos beiram ao nível do esgotamento. O nosso parar é um sinal de que a maneira como se mostra a nossa realidade, não condiz com o que desejamos dela, não nos favorece a qualidade na nossa formação.
Um educador escreveu no primeiro capítulo de seu livro, o seguinte título: “Não há docência sem discência ” e discorre no final desse mesmo capítulo sobre os discursos silenciosos que a estrutura das escolas gritão. E ele se questiona como cobrar a qualidade dos alunos se o próprio Poder Público não os respeita, sem fornecer esta qualidade. Pois: “A eloquência do discurso ‘pronunciado’ na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na higiene dos sanitários, nas flores que adornam. Há uma pedagogicidade indiscutível na materialização do espaço.” (Freire, 1996, p. 50).
E Paulo Freire (1996) continua a nos instigar quando fala:
O que importa, na formação docente [e discente], não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser “educado” vai gerando a coragem (p. 50-51, colchetes adicionados).
É com esse desejo de ter insegurança na vivência de nossa prática, de ser escutado e compreendidos nas nossas emoções e sentimentos, que nós estudantes de psicologia somos incomodados para crescer e inferir sobre a condição humana, que só pode ser sentida e atuada na ação, na vivência, no questionamento, na aquisição de conhecimentos ao repertório comportamental, assimilados e acomodados no nosso cognitivo, promotor de insights e transformação intima e/ou social das subjetividades.
Paremos agora, para seguir adiante, paremos agora, para sermos escutados e nos escutar, paremos agora, para começar a luta. Como o Movimento de Estudantes de Psicologia do Piauí (MPPI), sempre nos lembra ao dizer que: “a luta é um movimento, ela pode começar em qualquer ponto” e parar ou estar parado, mais nunca ficar parado, é o início de todo e qualquer movimento.
Pedro Victor Modesto Batista
Referência:
Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários para à prática educativa (15ª Ed.). São Paulo: Paz e Terra.
Número de períodos: 09
Número de alunos: por volta de 350
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