Jânio Holanda |
Vésperas das eleições passadas esta estava eu, como de costume, matando um velho hábito adquirido num passado bem distante: o de comer logo cedo da manhã aquelas comidas caseiras do Mercado do Mafuá. Assim como este humilde escriba, grande parcela da comunidade Teresinense gosta de fazer tal coisa.
Lá encontramos amigos e velhos conhecidos, principalmente aqueles que gostam de ir mais além durante as “cervejadas" noturnas dos finais de semana. Porém, naquela ocasião, um fato inusitado me chamou a atenção. A movimentação das pessoas era mais intensa, um barulho de som, tocado por uma banda cada vez mais se aproximava do local onde estava a brigar com um osso para extrair o tutano, durante a degustação de uma velha e tradicional Mão de Vaca.
À medida que o som aumentava de volume, aos poucos foram surgindo os músicos com suas cornetas e tambores e logo atrás dos artistas, seguia uma pequena multidão uniformizada de camisas amarelas, ovacionando dois candidatos a deputados para a eleição que aconteceria brevemente: os candidatos eram, respectivamente, Robert Rios (estadual) e Osmar Junho (federal). Entre tapas nas costas e apertos de mãos os dois percorriam as bancas das verdureiras, bem como as mesas das pessoas que estavam preenchendo o estômago.
Do meu canto, observava atentamente os sorrisos largos estampados nos rostos dos candidatos e mais ainda a preocupação dos seguidores em distribuir santinhos e pedir votos para os dois. A minha mesa foi uma das visitadas pelos candidatos, sempre acompanhados de moças jovens e bonitas, que impressionavam os habituais fregueses com suas “simpatias” enaltecendo o valor dos “chefes”.
Achei bonito o gesto dos candidatos. Sem aqueles velhos e antipáticos discursos de retóricas fizeram a média com os populares que ali se encontravam. No entanto, fica patente cada vez mais um velho ditado popular que diz: “político só aparece em lugar de pobre quando é para pedir votos”.
Passadas as eleições, ambos foram eleitos e eu cumprindo a velha rotina de frequentar o antigo mercado, nunca mais vi e nem ouvi falar de outras visitas dos candidatos citados e nem de outros políticos, que também fizeram igual visita ao mercado naquele período. Perguntamos: Será que eles temem as cobranças das promessas não cumpridas ou têm medo de serem, incomodados com pedidos de empregos ou algum pequeno favor?
Todos sabem que nos mercados trilham pessoas de diferentes bairros, e todas, certamente, com alguma história ou sugestão para expor sobre algum problema localizado na comunidade onde reside. Portanto, isso já seria motivo suficiente para uma visitação sistemática dos políticos nesses espaços populares.
A ausência dos nossos representantes, em especial aqueles que detêm mandatos eletivos, deixa claro e dá margem a comentários maldosos sobre as suas personalidades. A fragilização e a credibilidade da classe política brasileira perante a população são componentes crescentes, justamente por causa de pequenos detalhes como estes.
Jânio Holanda - Jornalista