8 de dezembro de 2011

41 mil homicídios e a sala de aula

Geraldo Filho
Artigo de autoria de Geraldo Filho – Sociólogo, Bacharel e Mestre: professor do Campus da UFPI de Parnaíba

Qual a relação entre o alarmante número de 41 mil homicídios cometidos no Brasil em 2010 e a sala de aula?

O quadro Conselho de Classe, apresentado pelo Fantástico, Rede Globo, nas últimas semanas, explica esta relação mais do que rios de saliva e tinta gastos por “masturbadores intelectuais” vinculados às universidades brasileiras.

O Fantástico desnudou, espero que para os olhos envergonhados da sociedade (pelo menos para quem sabe ver!), a verdadeira calamidade da educação. Nas salas, reina a indisciplina, os alunos fazem de tudo (brincam, correm, ficam de costas, ouvem música, preparam maquiagem, comem) menos concentrarem-se para assistir às aulas. Por outro lado, professores ficam se humilhando, pedindo repetidas vezes para que os alunos façam silêncio e fiquem atentos às explanações (como se isto fosse um favor e não uma obrigação!), ou, então, inventam palhaçadas, pulam, cantam, com o mesmo objetivo de cativar a turma.

Neste cenário de desordem, que se acentuou depois dos anos 70, depois de que várias teorias pedagógicas e políticas estrangeiras, que nunca foram testadas em larga escala nos seus países de origem (e quando foram fracassaram!) tomaram de assalto a educação brasileira, é que se desenvolve o ensino aprendizagem, do fundamental ao médio.

A consequência, uma enormidade de pessoas que não sabem ler, escrever, pensar e que têm pouquíssima cultura literária e geral. Antes de um anônimo escrever que estou chamando as pessoas de ignorantes, aconselho que olhe os resultados das avaliações do MEC e do PISA (avaliação internacional - OCDE) as quais alunos brasileiros se submetem e confira o desastroso desempenho nas provas de matemática, português e ciências.

Os “masturbadores intelectuais”, e os políticos que eles apoiam, dizem que falta dinheiro para a educação, para modernizar escolas; defendem a “gestão democrática “ das organizações educacionais, com eleições para diretores e, nas universidades, reitores; a formação de conselhos escolares nos municípios, a criação de projetos político-pedagógicos, etc...Soluções absurdamente alheias à realidade das salas de aula, “esperma intelectual”.

A pergunta antropológica a se fazer é: por que os alunos acham que podem fazer na escola, colégio ou faculdade, o que não fariam numa consulta com um médico ou em um escritório de advocacia?! Em casa, os pais reprimem a baderna dos filhos e os punem; na consulta com o médico e com o advogado (ou com qualquer outro profissional), como clientes prestam atenção aos seus interesses. Por que nas salas de aula, onde também os alunos são clientes (direta ou indiretamente), o profissional que está ali à frente não deve merecer respeito e atenção?!

Pais e alunos imaginam que a escola é a extensão da casa, sem a ordem doméstica, e que os professores são “tios” e “tias” prontos para entenderem as travessuras e caprichos dos filhotes.
O ensino e aprendizagem é um processo de disciplina da mente e do corpo. Portanto, as organizações educacionais são instituições de ordem e treinamento. Os professores que as formam não são “tios” e “tias”, são profissionais que como os demais lutam por dinheiro, motivação fundamental em qualquer área profissional.

Para melhorar o caos das salas de aula sem planos mirabolantes e demagógicos, deve-se começar por devolver a autoridade do professor. Pais e alunos tomam conhecimento das regras disciplinares das organizações que serão implementadas nas aulas pelos professores, o parâmetro a orientar a disciplina é: aula é instante de concentração e silêncio, qualquer perturbação a este momento deve ser reprimida com rigor (exclusão da sala, suspensão da escola e desligamento).

É necessário deixar nas salas apenas profissionais de nível alto. Um profissional bem pago, sem preocupações com contas particulares ou familiares para pagar, e sem medo dos alunos, é capaz de administrar turmas grandes de 50 alunos ou mais. Para tanto, deve-se modificar o modelo vigente no ensino público, fundamental e médio, respectivamente sob responsabilidade dos municípios e estados.

No ensino público, federal também, os professores devem ser contratados sob o regime da CLT, terminando com a isonomia salarial para se pagar por desempenho (premiar o mérito: quem ensina melhor ganha mais), os incompetentes seriam demitidos, por ruindade, a qualquer tempo. Esta é uma medida típica do capitalismo de estado na China.

Uma pergunta inocente: por que os melhores colégios do Brasil, segundo avaliações do MEC, são os colégios militares (exército), ou os civis com forte tradição disciplinar, como o D. Barreto, em Teresina?! Os “masturbadores intelectuais” não falam sobre isso, imbuídos que estão em ensinar a “pedagogia dos oprimidos” com o objetivo de formar “cidadãos críticos”...

Agora pensem: se não há ordem e disciplina na instituição social que, depois da família, deve preparar o indivíduo “durante toda sua existência” para viver em sociedade (sim, pois, não se assustem, para viver bem esta vida você está condenado a estudar para sempre), como se integrar corretamente a esse mundo?! Como adquirir a noção do que é público e privado, certo ou errado, o que é meu e o que é de todos???

Você acredita que um criminoso tem uma mente sã e um corpo sadio? Em equilíbrio harmônico? Há algum descompasso entre um e outro. O anônimo que acha que eu “naturalizo” o ser humano deveria ler “Em busca de Espinosa”, do neurologista Antônio Damásio. Mente e corpo são um complexo só, o treinamento disciplinar dos dois é determinante para o seu desenvolvimento saudável.

Sem o controle das instituições sobre o id (instintos) dos humanos (isso se o id não for deformado por alguma disfunção genética) suas compulsões criarão indivíduos descontrolados, que com o objetivo de realização dos seus desejos, matarão ou passarão por cima dos outros.

Parecido com o que vem ocorrendo nas salas de aula, pois as agressões a professores e alunos se multiplicam e já houve ocorrência de mortes (o caso da chacina do Rio de Janeiro não entra aqui, pois é caso típico de id deformado por disfunções neuro-genéticas). Eis as incubadoras de bandidos que inflam as estatísticas do crime. Mas os “masturbadores intelectuais” não reconhecem isso, para continuarem sua prática de onanismo intelectual cujo clímax se dá onde?... No cotidiano das salas de aula das escolas.

Mecanismos corticais (somato-sensitivos) são fundamentais para a decodificação das punições e recompensas no processo de aprendizagem de qualquer animal, principalmente o humano. A punição é um mecanismo didático da natureza, bem como o prêmio. A falta de punição explica os 41 mil assassinos dos 41 mil mortos (evidente que a relação não é 1/1; pois 1 pode ter cometido 2 ou mais execuções, mas a variação para mais é mínima).

No entanto, o sistema jurídico e carcerário brasileiro enfatiza a “recuperação” dos criminosos não a sua punição. Eles não levam em consideração o sentimento dos familiares das vítimas. Será que eles desejam que os assassinos de pais, mães, filhos, maridos, esposas, namorados e amigos se “recuperem”... Bem, sempre aparece uma Madre Teresa de Calcutá, mas na maioria corre sangue nas veias!

É isso no que dá destruir o princípio da disciplina nas organizações educacionais. Um caso recente é ilustrativo: alunos da USP brigando, ocupando a reitoria e fazendo greve para impedir a presença da polícia no campus, para que possam tomar droga a vontade, e o pior, com o apoio de alguns professores. Não passam em suas cabeças “uspianas” que a universidade é uma instituição pública, é espaço público, onde deve vigorar a lei. Quer tomar droga, vai para casa! No entanto, professores ainda saíram em defesa desses alunos (que se diga bem, uma minoria, da Faculdade de Ciências Humanas e Letras) contra a truculência da polícia, etc.... Está explicado porque a USP e similares, pelo menos nas áreas citadas, são berços dos “masturbadores intelectuais”.

Enquanto isso na China, Coréia do Sul, Japão, Dinamarca, Noruega... os alunos estão sentadinhos, caladinhos, uniformizados, concentrados, fazendo as tarefas, respeitando os professores, brincando e interagindo no recreio, enfim... treinando e aprendendo para o futuro.