![]() |
Geraldo Filho |
Artigo de autoria de
Geraldo Filho – Sociólogo, Bacharel e Mestre: professor do Campus
da UFPI de Parnaíba
Sobre violência e
criminalidade no Brasil já escrevi outros artigos no acesso343, e
não gosto de me repetir, mas há fatos que não posso deixar de
comentar, em razão de seu conteúdo significativo, pois revelam a
mentalidade dessa sociedade, principalmente quando comparada com a
americana.
Na penúltima semana de
julho de 2012, um criminoso invadiu um cinema em Aurora, estado
americano do Colorado, matou 12 pessoas e feriu outras 58. O
criminoso está preso, a promotoria consulta as famílias das vítimas
para pedir a pena de morte. O certo é que, mesmo que ela não seja
aplicada, esse assassino jamais deixará a cadeia. Ou porque levará
perpétua, ou pela quantidade de anos a que será condenado.
No Brasil, na mesma
semana, uma jovem policial foi fuzilada em uma favela “pacificada”
do Rio de Janeiro. Qual a reação da irmã da vítima, também uma
policial militar?! “Espero que os criminosos sejam presos, para que
outras pessoas não passem pelo sofrimento que eu estou passando!”
Em outro artigo apontei a autopiedade simplória por trás dessa
resposta clichê (padrão), que tem por objetivo, mesmo que
inconsciente, despertar a compaixão farisaica das pessoas: “Olha,
quanto desapego, coitadinha, mesmo em momento de tanto desespero ela
lembra de se preocupar com os outros!”
Cabe perguntar: onde
está a origem desse clichê?! Em um tipo de religiosidade cristã
piegas, tanto na matriz católica como na variação protestante, que
moldou a mentalidade dessa sociedade, que se caracteriza por ser
infantil, tola e covarde.
A sociedade americana,
através do seu sistema judiciário, vai “excluir” o criminoso
James Holmes da sociedade, ou matando (caso da pena de morte), ou
impedindo que ele retorne para o convívio social, como conseqüência
de uma pena longa, que extrapola o limite da vida humana. Já a
sociedade brasileira, através do seu sistema judiciário, que é o
seu reflexo, vai se preocupar em “incluir” o assassino da
policial militar novamente em nosso convívio. Para quê? Para que
ele repita tudo de novo com outras vítimas inocentes, afinal, como
diz um outro clichê tão caro aos brasileiros: “Todo mundo merece
uma segunda chance.” Os homicidas só não dão essa chance para
suas vítimas.
Se nós fossemos
eternos materialmente (corpo físico), ou tivéssemos certeza da
eternidade (mundo espiritual), pouco se ligaria para a violência,
aliás, ela nem existiria provavelmente, porque um dia tudo se
poderia conquistar. Mais tarde ou mais cedo, pouco importaria,
afinal, essas qualidades de cedo ou tarde nada significam para o que
é terno.
O problema é que não
somos nem materialmente eternos e nem temos certeza da eternidade
espiritual, É por isso que me ponho a refletir sobre a monstruosa
injustiça dos crimes que interrompem as pequenas e frágeis vidas
das vítimas, arrancando-lhes o pouco tempo que tinham para viver.
Os formuladores das tão
badaladas “políticas públicas” deveriam refletir sobre isso,
sobre a injusta interrupção do tempo de vida de inocentes. Se eles
tivessem capacidade de se aprofundar em filosofia, neurociência e
sociologia real nessa reflexão, talvez percebessem que deveriam
chorar pelos mortos, com seus familiares, e não pelos criminosos.
No entanto, essa
sociedade de mentalidade infantil, tola e covarde, como consequência
também é insensível. Quando se faz a antropologia do crime no país
procura-se explicar suas causas socioeconômicas, não o ato do crime
em si e o resultado para suas vítimas.
A insensibilidade
produz pesquisas ditas científicas que felizmente a dura realidade
se encarrega de desmentir. Ainda no mês de julho, cientistas sociais
brasileiros divulgaram dados apontando para a queda da criminalidade
no país, segundo eles, resultado das tais “políticas públicas”.
E que isso era a luz no final do túnel para o futuro.
Em São Paulo, só para
contrariar o estudo dos meus colegas, no mês de julho disparou o
número de homicídios e outros tipos de crime. Mas eu gostaria de
perguntar para eles: qual o conforto para os familiares das vítimas
que morreram, ou para as vítimas de roubos, furtos, assaltos,
sequestros, estupros em saber que no futuro os crimes diminuirão?!
Isso é covardia e insensibilidade. Os mortos não voltarão e as
vítimas que sobrevivem carregam traumas difíceis de esquecer.