A coragem de assumir
seus atos
“Fomos lá e matamos
Charles Chandler com vinte tiros.
Era o justiçamento de
um capitão norte-americano que estava no Brasil pra ensinar tortura
e havia cometido crimes horríveis no Vietnã.
Invadimos o hospital
militar do Cambuci. Explodimos o Quartel General do Ibirapuera.
Tomamos dinheiro dos bancos, na marra, é claro.
Pusemos uma bomba no
consulado dos Estados Unidos, outra na Sears.
Era uma forma de
propaganda para nossa luta já que na minha casa tinha 480 quilos de
dinamite.”
No último dia 19 de
março, Pedro Lobo de Oliveira se apresentou à Comissão da Verdade
para fazer um relato de sua militância na luta contra o regime
militar implantado pela força das baionetas no dia 31 de março de
1964.
Pedro foi um dos mais
ativos guerrilheiros em ação contra o regime. Em seu currículo
estão ações ousadas como a execução do capitão norte-americano
Charles Rodney Chandler, a invasão para o roubo de armas do Hospital
Geral do Exército do bairro do Cambuci e a explosão do Quartel
General do Ibirapuera, ambos em São Paulo.
O ex-sargento
participou ainda de assaltos a banco, invasões de pedreiras para a
aquisição de explosivos e de ações de propaganda revolucionária,
como a bomba detonada no consulado dos Estados Unidos, no prédio do
Conjunto Nacional, na capital paulista.
Em seu depoimento, o
fundador da Vanguarda Popular Revolucionária, cuja vida está
retratada no livro Pedro e os Lobos
www.osanosdechumbo.blogspot.com.br revelou sua militância
no Partido Comunista, o papel como segurança pessoal de Luís Carlos
Prestes. Pedro falou ainda dos vínculos com o Movimento Nacional
Revolucionário, de Leonel Brizola, com o Grupo dos Onze e as ações
na organização clandestina que abrigou o Capitão Carlos Lamarca.
Por fim, o ex-sargento
da Força Pública contou como foi barbaramente torturado nas
dependências do Departamento de Ordem Política e Social do Largo
General Osório, em São Paulo, seu banimento, o treinamento em Cuba,
a passagem pelo Chile durante o golpe que derrubou Salvador Allende e
o longo exílio na Alemanha Oriental.
“Fiz a obrigação
como brasileiro e tracei um relato completo da minha participação
na luta. Isto porque tudo o que fiz foi em defesa da pátria e me
orgulho muito disso.”
Resta agora saber se os
algozes de Pedro Lobo, os homens que, a serviço do Estado,
prenderam, torturaram, mataram e deram fim em centenas de corpos de
presos políticos durante a vigência do regime terão a coragem de
sentar-se diante da Comissão.
Só assim, vamos poder
virar a página deste que foi um dos períodos mais conturbados de
nossa História.
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laque@ibest.com.br