O movimento por um país mais
administrativamente decente recebe crítica por sua principal
virtude, o fato de não ter um dono. Ele não se originou de
partidos, nem ONGs, nem grupos religiosos nem de radicais. Seus
fundadores são estudantes, para não dizer do povo, de todos os
brasileiros insatisfeitos. Se seguissem alguma instituição seriam
tachados de alienados, quando não seguem são chamados de perdidos,
sem foco e sem ideal. Os críticos não conseguem entender que a
importância está no fato de a participação ser justa, seja
iniciado espontaneamente ou por alguma organização.
Outra parte grandiosa critica o fato de
os insurgentes não andarem de ônibus. Mesmo o jornalista Roberto
Pompeu de Toledo entrou na onda ao sugerir que esses deveriam
pleitear passagem gratuita de avião. Por essa ótica eu nunca
deveriam ter me manifestado contra a violência doméstica,
especialmente o espancamento de mulheres pelos companheiros, já que
eu nunca agredi minha esposa.
Antes da manifestação histórica do
último dia 17 de junho, grande mídia chamava genericamente a todo o
movimento de baderneiro, além da veemência dela e das autoridades
na defesa da truculência policial, como condição inevitável.
Sempre era a polícia quem reagia. Não levavam em conta a
possibilidade de infiltração por quem tem interesse em desmoralizar
e tirar a legitimidade do movimento.
Depois do ocorrido a miopia acabou e
reconheceram que os baderneiros são uma minoria. Além disso,
ninguém, absolutamente ninguém, disse que a responsabilidade de
prendê-los é da polícia. E aí cabe reconhecer que não é fácil
no meio daquela multidão e também tem que ter o apoio claro das
lideranças, dos manifestantes de bem, inclusive com força
suficiente para reprimirem os baderneiros, é necessário repetir que
eles devem ser responsabilizados civil e penalmente pelos seus atos,
uma redundância, mas que serve como reforço.
De forma nenhuma se justifica
quebra-quebra. Mas só não é compreensível que uma agência
bancária quebrada pelos oportunistas repercuta muito mais do que as
centenas que voam aos ares todos os dias pelas dinamites da
bandidagem. E, por maiores que sejam os prejuízos, é uma gota
d’água no oceano da corrupção que, de tão arraigada na nossa
cultura, as pessoas defendem a diminuição e não em acabar.
Nesse afã de criticar, a maioria se
esquece de que o nome correto é criminoso para quem quebra ou
danifica bens alheios, sejam públicos ou particulares, ou agride
outras pessoas.
Outra crítica dissimulada é diminuir
a importância do aumento da passagem. É caro qualquer valor cobrado
por serviços de qualidade idêntica à dos transportes públicos no
Brasil. Quem utiliza trem, metrô ou ônibus em horário de pico sabe
que é indecente e desumano. Ainda que fosse gratuito teria que
melhorar, pois como está ofende a dignidade da pessoa humana.
Todos já sabiam que qualquer fato
poderia ser a gota d’água. Foram os 20 centavos. O movimento
cresceu de centenas para milhares numa semana. É preciso definir uma
data nacional de manifestações simultâneas em todas as capitais e
grandes cidades. Daqui por diante, assim como nas greves, seria
importante manter em estado de manifestação, até que se inicie um
processo de melhorias nos serviços públicos e privados.
Ferrenhos analistas dizem que as
autoridades não sabem como responder aos pleitos por não ter um
foco. Em nenhuma hipótese essa ausência de metas é da
responsabilidade dos manifestantes. Já que os governos não sabem,
aqui vai uma sugestão: bastaria melhorar acima de mil por cento a
qualidade do ensino público básico, a saúde, a segurança, os
transportes coletivos, as estradas, o saneamento básico, a limpeza
dos rios, o acesso à cultura. Só isso. O verdadeiro motivo de
tamanha oposição é não saber conviver com reivindicações e isso
é bem mais grave do que os baderneiros.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP
Bacharel em Direito