Muitas vezes existem
afirmações de que a soberania de um estado é sua maior segurança
para a chamada autodeterminação do seu povo. Vale para todos os
estados. Entretanto, existem organismos internacionais que impõem
sua força e fazem prevalecer suas regras sobre todos os estados,
como é o caso da Federação Internacional de Futebol, a famosa
FIFA. Tudo que ela exige é cumprida. É assim que aparecem nas redes
sociais as comparações das cadeiras estofadas nos estádios em
total inversão com os assentos quebrados e totalmente detonados nos
hospitais públicos.
Essa diferença ficou
mais nítida esta semana. Uma senhora de quase 90 anos de idade, tia
de um colega de trabalho, com o fêmur quebrado, penava há mais de
48 horas numa maca nos corredores do hospital São Paulo. Não é uma
espelunca qualquer, trata-se de uma referência nacional da maior e
mais rica cidade brasileira.
Esse descaso com a
saúde pública se assemelha à inflação há várias décadas,
somente amainada pelo governo Itamar Franco, sob a batuta do então
ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Só que existem
algumas diferenças substanciais. A principal é que as máquinas de
remarcação de preço tornava a inflação muito mais difícil de
ser escamoteada, como fazem as autoridades com a saúde.
Sobre a saúde pública
há uma cegueira generalizada da sociedade. Crianças morrem ao
receber vaselina ou café no lugar de soro, mulher permanece com um
pedaço de faca no corpo por 37 anos, um homem foi operar uma verruga
e saiu do hospital operado de vasectomia e nada disso gera uma
indignação organizada da sociedade que force as autoridades a
tomarem medidas drásticas e que haja uma melhoria reconhecida e
vivenciada pelas pessoas.
Esporadicamente, alguns
planos mirabolantes são jogados no ventilador para a imprensa
oficializada se encarregar de espalhar aos sete ventos, o que faz com
muita galhardia e distorções, sendo a principal omitir o nome dos
hospitais e dos profissionais envolvidos em denúncias de omissão e
de falhas grosseiras. O megaplano do momento é sobre a vinda de
médicos cubanos para atuarem em regiões mais carentes do país.
Enquanto isso, medidas
simples não são tomadas. Uma eficiente seria colocar uma tabela com
o nome completo, as funções e o horário dos funcionários em todos
os departamentos de saúde do país. Isso evitaria a farra das
faltas, dos atrasos e das saídas durante o expediente.
Quando o cidadão quer
reclamar não sabe o nome nem da atendente que demorou a preencher a
ficha nem do diretor da Unidade. Por isso, médicos recebem salários
mensais registrando a presença integral com dedos de silicone. Outra
medida seria criar um organismo internacional forte como a FIFA para
exigir o cumprimento de suas exigências aos governos mundo afora.
Somente assim os aposentos das pessoas que sofrem nos hospitais
públicos teriam conforto igual ao de quem assiste a uma partida de
futebol.
Não basta colocar
nomes em tabela para depois dizer que isso não resolve o problema.
Precisaria fiscalizar com eficiência, tomando medidas disciplinares
rápidas contra os funcionários públicos negligentes e omissos. São
medidas que poderão ajudar outras, não à tia do meu colega, que
continuará lá sofrendo, sem saber quantas pessoas deveriam estar de
plantão nem quem é o diretor do hospital São Paulo.
Pedro Cardoso da Costa
– Interlagos/SP
Bacharel em Direito