Alguns segmentos sociais precisam
entrar em consonância com a sociedade brasileira. Um desses é a
mídia brasileira, em especial os canais de televisão aberta.
Na cobertura das manifestações era
claro o viés para desmoralizá-las, quando tratava de forma
generalizada como vândalos, baderneiros e depredadores, cujos
adjetivos visavam enfraquecer os movimentos. Outro posicionamento que
deixava isso muito claro era responsabilizarem os manifestantes pelo
início dos incidentes contra a Polícia Militar.
Essa cobertura tendenciosa continua com
as tais respostas das autoridades às reivindicações. As matérias
são sempre narrativas, sem qualquer análise técnica para comprovar
a viabilidade dos delírios das autoridades.
Quando o Supremo Tribunal Federal –
STF mandou prender o deputado Natan Donadon, ninguém se dignou a
questionar o relator ou presidente da Corte por que a prisão só
ocorreu três anos depois da condenação e logo após a insurgência
nacional. Além disso, nenhuma pesquisa é feita para averiguar os
muitos processos contra parlamentares que continuam mofando nos
escaninhos dos tribunais brasileiros.
Mesmo conclamando por melhor qualidade
na saúde e educação e maior segurança, a resposta federal girou
em torno da reforma política. Todos aceitaram como se fosse algo
sério e não disseram uma vírgula no que isso melhoraria nessas
áreas. Também não se compreende por qual motivo não há uma
menção à extinção do voto obrigatório. Não há questionamento
sobre o fato das medidas só trazerem resultados para prazo
longínquo, quando a necessidade é para ontem. Nada, absolutamente
nada, está sendo feito para melhorar essas três maiores
reivindicações imediatamente. O resultado mais próximo seria o
trabalho compulsório por dois anos para os alunos de medicina que
ingressarem a partir de 2015 nas faculdades. Ou seja, no mínimo
teria início em seis anos. Até lá milhares já morreram sem
atendimento nas filas.
A cereja desse bolo de embromação foi
a aprovação de uma emenda constitucional para a retirada do segundo
suplente de senador. Não há registro na história de que um segundo
suplente tenha ocupada a vaga de senador, já que para isso teria que
saírem o titular e o primeiro suplente. Mas essa enganação
conseguiu até manchete de primeira página do jornal O Estado de S.
Paulo sobre a retirada do segundo suplente, que, numa análise séria,
traz zero de benefício à população.
Muitos apresentadores de televisão
instigam a violência policial. José Luiz Datena, um verdadeiro
camaleão nas suas posições, lidera com a frase matreira de que a
“cobra vai fumar”, numa alusão explícita à truculência
policial. Quando vier a revanche, eles não vão se lembrar do
telhado de vidro. Assim como os políticos, a mídia, liderada pela
Rede Globo, está atravessada na garganta da sociedade brasileira.
Nas manifestações anteriores muitos jornalistas já foram
hostilizados, e se a mídia não encontrar o rumo certo de fazer
jornalismo, a “cobra vai fumar” nos próximos protestos.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP
Bacharel em Direito