11 de fevereiro de 2009

Rosário é discriminada por vendedora dentro de casa


- “O Antonio Neto está precisando de umas camisas novas, mas não tem tempo de ir comprar”.

Após ouvir essas frases várias vezes, uma amiga do casal resolveu levar duas vendedoras de uma loja de um shopping de Teresina até a residência da vereadora Rosário Bezerra.

Na hora em estavam efetuando a venda, a parlamentar entrou na sala com um sorriso à guisa de cumprimento.

- “Olha, o meu candidato a Governador vai ficar mais bonito ainda com esses trajes...”.
A sua alegria foi interrompida por uma frase dita em um tom sarcástico de Sinhá de Senzala:

- “Você trabalha aqui?”, indagou uma das vendedoras com uma voz klu-klux-klânica.
Após receber esse açoite verbal, Rosário deu um branco - mas suspirou, contou até 13, abriu os chacras, lembrou da mãe, dona Dica, e do pai, seu Feliciano.

Em qual mundo vive essa menina, meu Deus?, pensou antes de falar qualquer coisa para desfazer aquele mal-estar.

- “Oi, sou a dona da casa, casado com ele”, apontou para Antonio que, entre estupefato e sem graça, sorria amarelo.

A vendedora racista tentou remendar o papo furado afirmando ter votado na petista.

- “Se for verdade, eu agradeço. Mas, pelo que ouvi aqui, acho difícil que isso tenha ocorrido realmente”.

Gentil-homem, Neto falou sobre o amor sobre pela mulher e os dois filhos, Marina e Vinícíus.

- “Somos casados há trinta anos”, balbuciou e, em seguida, fez uma peroração onde as palavras mais ouvidas foram Navios Negreiros, Casa Grande, Feitor, Capitão do mato, 13 de maio, José do Patrocínio, Esperança Garcia, Hitler, Cristo, Francisca Trindade, Regina Sousa, Segregação, Martin Luther King, Apartheid , Nelson Mandela.

Durante a sua fala, a vendedora cabisbaixou os olhos e, por relance, viu na televisão a imagem de um homem magro afro-descendente; ele concedia uma entrevista no salão oval da Casa Branca sobre um plano para salvar a economia do planeta Terra.

Após alguns minutos quase eternos de constrangimento, a outra vendedora gaguejou: - “o senhor vai ficar com a mercadoria, secretário?”.

A chicotada, digo, resposta foi dada pela amiga do casal.

- “A Rosário vai comprar duas camisa. Uma branca pra o filho, e uma preta para o marido!”.

Francisco Magalhães
Coluna Porteira - Cidade Verde