19 de maio de 2009

Estado adormecido e omisso assiste um massacre aos pediatras

Quem quiser pode conferir, desde junho de 2006, quando o Governo do Estado do Piauí contratou as equipes básicas para a emergência do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde, que estamos assistindo um verdadeiro “calvário” com nossos quatro pediatras que prestam serviços na referida instituição. Só para esclarecer, segundo informações repassadas pela direção da instituição, em 2006 eram atendidas cerca de 3000 (três mil pessoas) mês, atualmente chega a 10.000 (dez mil) mês.

Todas as outras equipes possuem um número maior de profissionais, exceção se faz a trauma/ortopedia 5 (cinco plantonistas) e pediatria 4 (quatro plantonistas), vale lembrar que todos profissionais trabalham em regime de plantão com carga horária de 24 (vinte quatro horas semanais) , que significa que o profissional, pode ficar dia e noite de plantão ou dividir um dia fica 12 horas e outro dia a noite ou ainda dois dias 6 horas e uma noite de plantão, contanto que complete as 24 horas semanais. Em termos práticos teríamos que termos no mínimo 7 profissionais , isto é, um plantonista por dia, sem falar que quando um dos médicos está de férias apenas os três restantes fazem os plantões.

Este sistema de trabalho é o mesmo em todo território nacional seja em clinicas privadas ou no serviço público, é claro que em outros lugares a escala é completa (8 plantonistas). O dilema piora quando este plantonista tem que exercer múltiplas funções de emergências simultaneamente, que são: Atendimento de Emergência, Sala de Parto (neonatologia), atendimento aos pacientes internados em estado grave nas enfermarias além de intercorrências na UTI. Para enfrentar essa batalha os nossos pediatras têm que enfrentar familiares furiosos com seus filhos em situação de risco. Já houve caso de agressão verbal e tentativa de agressão física aos plantonistas. Para piorar a situação, o serviço está absorvendo toda a população da macrorregião, composta por várias cidades desassistidas. Se não fosse o bastante, os postos de saúde que deveriam atender os casos não emergentes estão inoperantes e ineficientes, por falta de motivação, uma vez que, tais postos se encontram desaparelhados, sem medicação básica, sem estrutura física e humana, já que a saúde não passa por reajustes desde que foi criado pelo prefeito que antecedeu a atual gestão. A sala e o corredor da emergência se transformam em única alternativa para população, seja ela de baixa renda ou não.

Neste contexto, o que faremos com nossos filhos quando estiverem doentes? Nossa passividade em assistir de braços cruzados estes fatos talvez nos custe mais caro do que pensamos. Sei que a primeira pedra é atirada em quem já está massacrado e sem forças para reagir. Precisamos acordar esse gigante adormecido, insensível, ausente e inoperante, uma vez que, se existe alguém verdadeiramente responsável por este caos, chama-se MÁQUINA ESTATAL, vale ainda lembrar que todos nós temos e somos parte deste contexto, furtar-se a esta realidade é no mínimo mediocridade.

Por Dr. JOSÉ OSVALDO
Médico Ortopedista e plantonista do Estado
Presidente do SIMP