2 de abril de 2013

Ex-guerrilheiro assume mortes em depoimento a comissão da verdade


A coragem de assumir seus atos

“Fomos lá e matamos Charles Chandler com vinte tiros.
Era o justiçamento de um capitão norte-americano que estava no Brasil pra ensinar tortura e havia cometido crimes horríveis no Vietnã.
Invadimos o hospital militar do Cambuci. Explodimos o Quartel General do Ibirapuera. Tomamos dinheiro dos bancos, na marra, é claro.
Pusemos uma bomba no consulado dos Estados Unidos, outra na Sears.
Era uma forma de propaganda para nossa luta já que na minha casa tinha 480 quilos de dinamite.”

No último dia 19 de março, Pedro Lobo de Oliveira se apresentou à Comissão da Verdade para fazer um relato de sua militância na luta contra o regime militar implantado pela força das baionetas no dia 31 de março de 1964.

Pedro foi um dos mais ativos guerrilheiros em ação contra o regime. Em seu currículo estão ações ousadas como a execução do capitão norte-americano Charles Rodney Chandler, a invasão para o roubo de armas do Hospital Geral do Exército do bairro do Cambuci e a explosão do Quartel General do Ibirapuera, ambos em São Paulo.

O ex-sargento participou ainda de assaltos a banco, invasões de pedreiras para a aquisição de explosivos e de ações de propaganda revolucionária, como a bomba detonada no consulado dos Estados Unidos, no prédio do Conjunto Nacional, na capital paulista.

Em seu depoimento, o fundador da Vanguarda Popular Revolucionária, cuja vida está retratada no livro Pedro e os Lobos www.osanosdechumbo.blogspot.com.br revelou sua militância no Partido Comunista, o papel como segurança pessoal de Luís Carlos Prestes. Pedro falou ainda dos vínculos com o Movimento Nacional Revolucionário, de Leonel Brizola, com o Grupo dos Onze e as ações na organização clandestina que abrigou o Capitão Carlos Lamarca.

Por fim, o ex-sargento da Força Pública contou como foi barbaramente torturado nas dependências do Departamento de Ordem Política e Social do Largo General Osório, em São Paulo, seu banimento, o treinamento em Cuba, a passagem pelo Chile durante o golpe que derrubou Salvador Allende e o longo exílio na Alemanha Oriental.

“Fiz a obrigação como brasileiro e tracei um relato completo da minha participação na luta. Isto porque tudo o que fiz foi em defesa da pátria e me orgulho muito disso.”

Resta agora saber se os algozes de Pedro Lobo, os homens que, a serviço do Estado, prenderam, torturaram, mataram e deram fim em centenas de corpos de presos políticos durante a vigência do regime terão a coragem de sentar-se diante da Comissão.

Só assim, vamos poder virar a página deste que foi um dos períodos mais conturbados de nossa História.

Mais informações: laque@ibest.com.br