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Conto de Toni Rodrigues - Este é apenas um trecho do conto. A íntegra estará no livro inédito ENTRE DOIS MUNDOS, de autoria do jornalista e escritor Toni Rodrigues, que já se encontra em fase de impressão.
Já faz milhares de anos que nasci, mas não sou nenhum guerreiro imortal. Os Higlander são de outra espécie. Minha alma é imortal. Meu corpo não.
Meu poder consiste em migrar para corpos recém-falecidos. Algumas vezes fui obrigado, eu mesmo, a matar pessoas para poder ocupar seus corpos. Outras vezes não pude escolher. São centenas de gerações e de vidas.
Fui Jonas. Não Jonas, o Profeta, mas o jovem discípulo do Mestre.
Tratamos em nossas conversas sobre a imortalidade da alma. Discordávamos quanto ao limbo que ele chamava de céu.
"Os homens morre. A alma permanece viva esperando o julgamento do Pai."
"A alma realmente é imortal, Mestre, mas ela não vai para nenhum purgatório. Ela se renova em inúmeras reencarnações."
Minha vantagem sobre os demais é porque tenho plena consciência do que me acontece. Os indivíduos comuns, quando morrem, entram numa espécie de letargia e quando reencarnam não conseguem lembrar de suas vidas anteriores. Tenho lembrança de todas as minhas vidas.
"Explique melhor." Ele tinha muitas dúvidas.
Àquela época praticamente não havia ciência. Tudo era mistificação. O mundo era dominado pelos pregadores e falsos profetas. Fui advertido de que o Nazareno era um falso profeta.
O Mestre era muito inteligente. Mas já tinha suas próprias idéias sobre a imortalidade.
Naquele encontro final, no Jardim das Oliveiras, perguntei se queria que eu tirasse sua vida. Ele era muito corajoso. "Não precisa. Quero ir até o fim."
"Eles vão torturá-lo. O senhor passará por dores indizíveis."
"Tenho que cumprir meu destino..."
Olhei mais uma vez para a sua face desfigurada. Parecia uma máscara de cera.
Os demais discípulos estavam atormentados entre as árvores, completamente dominados pelas sombras da noite. Ao longe já podíamos ouvir a movimentação dos soldados em direção ao epicentro dos acontecimentos trágicos que estavam por vir. A captura do Mestre deflagraria uma série de ocorrências terríveis preditas pelo próprio. Em pouco tempo não restará pedra sobre pedra. A velha Jerusalém ruirá nos escombros de uma maldição.
"Eles estão vindo, senhor, ainda há tempo."
Ele me olhou com aquele olhar humilde que era sua principal característica. Só que agora também vi o terror em seus olhos. Estava terrivelmente dominado pelo medo de morrer. O sangue se misturava ao suor que empapava a sua pele.
De fato, morreria algumas horas mais tarde, e à mercê de grande suplício. Os soldados romanos cravariam nele uma coroa de espinhos e depois o açoitariam com chicote de couro cru e ossos de carneiro na ponta. O Mestre foi reduzido a uma massa disforme de carne e sangue.
Meu poder consiste em migrar para corpos recém-falecidos. Algumas vezes fui obrigado, eu mesmo, a matar pessoas para poder ocupar seus corpos. Outras vezes não pude escolher. São centenas de gerações e de vidas.
Fui Jonas. Não Jonas, o Profeta, mas o jovem discípulo do Mestre.
Tratamos em nossas conversas sobre a imortalidade da alma. Discordávamos quanto ao limbo que ele chamava de céu.
"Os homens morre. A alma permanece viva esperando o julgamento do Pai."
"A alma realmente é imortal, Mestre, mas ela não vai para nenhum purgatório. Ela se renova em inúmeras reencarnações."
Minha vantagem sobre os demais é porque tenho plena consciência do que me acontece. Os indivíduos comuns, quando morrem, entram numa espécie de letargia e quando reencarnam não conseguem lembrar de suas vidas anteriores. Tenho lembrança de todas as minhas vidas.
"Explique melhor." Ele tinha muitas dúvidas.
Àquela época praticamente não havia ciência. Tudo era mistificação. O mundo era dominado pelos pregadores e falsos profetas. Fui advertido de que o Nazareno era um falso profeta.
O Mestre era muito inteligente. Mas já tinha suas próprias idéias sobre a imortalidade.
Naquele encontro final, no Jardim das Oliveiras, perguntei se queria que eu tirasse sua vida. Ele era muito corajoso. "Não precisa. Quero ir até o fim."
"Eles vão torturá-lo. O senhor passará por dores indizíveis."
"Tenho que cumprir meu destino..."
Olhei mais uma vez para a sua face desfigurada. Parecia uma máscara de cera.
Os demais discípulos estavam atormentados entre as árvores, completamente dominados pelas sombras da noite. Ao longe já podíamos ouvir a movimentação dos soldados em direção ao epicentro dos acontecimentos trágicos que estavam por vir. A captura do Mestre deflagraria uma série de ocorrências terríveis preditas pelo próprio. Em pouco tempo não restará pedra sobre pedra. A velha Jerusalém ruirá nos escombros de uma maldição.
"Eles estão vindo, senhor, ainda há tempo."
Ele me olhou com aquele olhar humilde que era sua principal característica. Só que agora também vi o terror em seus olhos. Estava terrivelmente dominado pelo medo de morrer. O sangue se misturava ao suor que empapava a sua pele.
De fato, morreria algumas horas mais tarde, e à mercê de grande suplício. Os soldados romanos cravariam nele uma coroa de espinhos e depois o açoitariam com chicote de couro cru e ossos de carneiro na ponta. O Mestre foi reduzido a uma massa disforme de carne e sangue.