DEU NO BLOG DO TONI RODRIGUES
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A discussão em torno do projeto de criação do Estado do Gurguéia vai ganhar nova dimensão com o lançamento do oitavo livro de autoria do escritor Jesualdo Cavalcanti, presidente do Centro de Estudos e Debates do Gurguéia. Trata-se do Dicionário Enciclopédico do Gurguéia, o primeiro do gênero sobre a região, que será lançado no auditório do Tribunal de Contas do Estado, em abril.
O escritor correntino, que se aposentou do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, em 2002, para se dedicar a pesquisas sobre história do Piauí e ao movimento pela criação do Estado do Gurguéia, já publicou, a partir daí, os livros Notícia do Gurguéia (2002), Tempo de Tribunal (2003), Memória dos confins (1ª edição em 2005 e 2ª em 2007) e Tempo de contar (2006).
O Dicionário, em quase 3.000 verbetes distribuídos por 400 páginas, em primorosa edição, contém variadas informações sobre os 87 municípios incluídos no projeto de criação do Estado do Gurguéia, sobretudo no tocante aos aspectos histórico, econômico, geográfico, cultural e político-administrativo.
Também aborda personalidades nascidas na região, como o industrial Gil Martins (fundador da Usina Santana, em Teresina) e o marquês de Paranaguá, apontado por vários historiadores como o mais influente piauiense de todos os tempos. Inclui outras personalidades lá não nascidas mas a ela vinculadas por militância política, como o ex-governador Eurípides Aguiar (foi prefeito de Floriano). Outras, por ligações familiares, como o espanhol Manuel Arrey (casado com uma itaueirense), o atleta Joaquim Cruz (oriundo de família correntina), a ex-deputada Francisca Trindade (de família de Palmeira do Piauí), o poeta Torquato Neto (o pai Heli Nunes nasceu em Eliseu Martins), o intelectual R. Monteiro de Santana (casado com uma correntina) ou os empresários Paulo Guimarães (filho de uma jerumenhense) e Jesus Elias Tajra (casado com descendente de família gurgueiana). Ou por razões econômicas, como o empresário Jorge Batista da Silva (cearense com múltiplas atividades econômicas em Floriano) e o inglês Thomas Pearce (estabelecido em Uruçuí, no século passado, com uma empresa de navegação).
A obra também discorre sobre vultos piauienses não nascidos nem vinculados diretamente ao Gurguéia, a exemplo de Deolindo Couto, Da Costa e Silva e O. G. Rego de Carvalho, os quais, segundo o autor, por pertencerem ao patrimônio imaterial de todo o Piauí, “escapam a rótulos ou carimbos de cunho regionalista.” Deixa claro, portanto, que sua presença no livro “não tem o condão de identificá-los como gurgueianos nem aparentar ou compelir alguém a portar-se como tal”. Configura apenas uma homenagem de um piauiense orgulhoso dos conterrâneos que tem. E completa: “Afinal, se emancipado o Gurguéia, continuaremos sendo piauienses: piauienses do Gurguéia e piauienses do Piauí.”
– Por outro lado, esclarece Jesualdo Cavalcanti, a inclusão de nomes até refratários aos atuais anseios do Gurguéia, como o do deputado Nazareno Fonteles, teve o propósito de despir a obra de qualquer viés panfletário ou maniqueísta, realçando seu caráter pluralista, democrático, expositivo.
DEBATE EVOLUI
Ainda segundo o autor, ninguém pode desconhecer que a discussão em torno da criação da nova unidade federativa ganha corpo a cada dia. Já não é vista como um mero sonho de visionários. Ao contrário, insere-se no contexto de uma política mais ampla de desenvolvimento regional, tendente a combater as desigualdades internas por meio da redivisão territorial. Assim, a emancipação do Gurguéia provocaria um efeito imediato: duplicar os recursos e dividir os encargos, suprindo o Piauí do que mais lhe falta, isto é, meios para explorar as riquezas naturais que possui. Trata-se, pois, de um projeto consistente de desenvolvimento do Piauí como um todo, tão grandioso como o foi a mudança da capital para Teresina (1852), que possibilitou, via navegação, a exploração das terras ribeirinhas e o surgimento de quase todas as atuais cidades banhadas pelo Parnaíba. Falta-nos apenas um estadista da dimensão de Saraiva.
– Quer queiramos ou não, o assunto compõe nossa agenda política. Está posto em discussão, irremediavelmente. Não há como fugir ao debate, pois, como se sabe, tramitam no Congresso Nacional dois projetos sobre a realização de plebiscito para criação do Estado do Gurguéia: um na Câmara dos Deputados, de autoria dos deputados Paes Landim e Júlio César, já aprovado por todas as comissões, e outro no Senado, apresentado recentemente pelo senador João Vicente Claudino, que conta com manifestação favorável do senador Mozarildo Cavalcanti, seu relator na Comissão de Constituição e Justiça.
E acrescenta:
– A publicação da obra visa, portanto, municiar os analistas com maiores dados sobre o Gurguéia e assim qualificar o debate. Não podemos é perder mais essa parada. Pois, desastroso para o Piauí será a criação de outros Estados que não o Gurguéia: vamos pagar a conta sem nenhum proveito direto. Além do mais, não podemos perder de vista a necessidade de preservar a memória, conhecer mais de perto a realidade de uma região tão distante e o perfil de sua gente, buscando, em última análise, sua verdadeira identidade.