30 de abril de 2008

Cuidado com a rasteira!

Artigo de autoria do Jornalista Antônio de Pádua Marques

Pelo que se conhece dos cearenses, este negócio de entregar a Agência de Desenvolvimento Regional Sustentável para um piauiense, o advogado e administrador de empresas Florentino Alves Veras Neto, ex-secretário de Governo de Zé Hamilton Furtado Castelo Branco, não vai ficar assim nesta diplomacia toda não. Os cearenses são excelentes exemplos de capitalistas e empreendedores bem sucedidos em tudo o que fazem.

Bem diferentes de seus vizinhos maranhenses e piauienses. Portanto não será nenhuma surpresa se dentro de alguns meses eles passem a fazer a maior pressão para que a entidade recentemente criada seja transferida para sua capital, Fortaleza. Os piauienses estão apostando tudo o que é ficha para que o consórcio dê certo dentro do menor tempo possível. Contam entre os empreendimentos com as obras de ampliação da pista do aeroporto de Parnaíba e sua conseqüente entrada em operação, melhoria nas estradas, o porto de Luiz Correia, redes de esgoto e energia elétrica.

O Piauí está apertado entre a experiência bem sucedida de vários anos no setor turístico cearense e a descoberta recente deste ovo de Colombo pelos maranhenses, que pensando bem, pouco tem a oferecer como atrativo além da capital São Luiz. O Piauí entrou muito tarde em campo. Fazendo uma rápida analogia com o futebol, os piauienses pisaram no gramado aos trinta e nove minutos do segundo tempo e a partida marcando zero a zero.

Mas falando da indicação para gestores de empresas estatais e até privadas, os piauienses de um modo geral estão cansados de levar rasteiras. Eles não entendem o que é lobby empresarial e político, ficam acreditando naquela de que todo mundo é bonzinho e que o vizinho da esquerda e o da direita são as melhores pessoas deste mundo. A coisa não funciona com essa mentalidade no capitalismo. A iniciativa privada funciona no princípio da Fórmula I, onde cada um corre com o carro que tem, mas ganha aquele mais astucioso.

O Piauí não tem qualquer experiência, quanto menos bem sucedida, no setor do turismo. Pelo que se vê, parece que todo o esforço vem sendo feito pelo governo estadual e não encontra a ousadia no empresariado da região. E a atividade turística é de grande competitividade e liderada pela iniciativa privada em qualquer lugar do mundo. Das duas, uma. Ou os empresários são acomodados ou não tem capital e conhecimento do negócio em que estão metidos.

Eu assisti à passagem do cargo de secretário de Governo entre Florentino Veras Neto e José Carlos Martins Campos no início de março, dentro do gabinete do prefeito Zé Hamilton Furtado Castelo Branco. Confesso que naquele final de manhã, depois de todos os discursos e palmas, lembrei de pelo menos dois casos recentes de rasteira política em que existia gente do Piauí pelo meio. O primeiro, durante o primeiro mandato de Lula, envolvendo o ministro Ciro Gomes e o petista Francisco Guedes, lá da região de Picos e que foi levado pelo governador Wellington Dias para a presidência da CODEVASF.

Houve incompatibilidade entre os dois e Guedes voltou pra casa onde hoje ocupa a presidência de uma dessas empresas ligadas aos assentamentos no interior do Piauí. Quando tudo parecia estar esquecido, eis que outro piauiense vai para a presidência da mesma CODEVASF, o parnaibano Luiz Carlos Everton de Farias. Logo após sua indicação e posse, a cidade e seus políticos fizeram festa. A casa parecia ir se arrumando, a empresa abriu escritório na praça da Graça, inaugurou-se um centro de pesquisas em piscicultura no bairro de Fátima, mas de repente o homem perdeu o posto para um baiano. Lobby do pessoal do ainda poderoso senador Antonio Carlos Magalhães.

O caso da Phillips é outro caso. Desta vez envolvendo dois executivos de uma empresa multinacional. Quando presidente para a América Latina, o piauiense Horácio Almendra, com a maior das boas intenções resolveu doar uma unidade de terapia intensiva e um tomógrafo de última geração para o Hospital Estadual Dirceu Arcoverde, em Parnaíba. Não se sabe o que aconteceu depois, mas o certo é que deu motivos para que um seu colega de trabalho saísse falando tudo o que não devia sobre o Piauí. O caso ganhou repercussão inimaginável e quase acaba em incidente diplomático.

É pouco provável que os outros sócios fiquem calados e satisfeitos por muito tempo, principalmente o Ceará. Naturalmente que vai fazer lobby para que a agência saia da Parnaíba e fique em Fortaleza ou em Camocim. Seguramente os cearenses vão alegar competência, melhor estrutura e outras coisas. Mas é o preço que o Piauí está pagando em ter permanecido tanto tempo entregue à visão atrasada de seus políticos e empresários. Tomara que estas observações com o tempo não se confirmem e eu não seja mal interpretado.