A empresa Brasil Ecodiesel, uma das maiores do setor de biocombustíveis, voltou a ser denunciada por fornecer sementes de baixa qualidade, por oferecer assistência técnica ruim aos assentados e novamente por queima de madeira para a produção de carvão. A situação do assentamento Santa Clara, localizado a 70Km entre os municípios de Canto do Buriti e Eliseu Martins, região Sul do Piauí, foi de novo levada à tona após novas denuncias anônimas.
O Sindicalista José Francisco, conhecido como "Chico Miúdo", declarou saber de denúncias antigas e que após estas novas denuncias está organizando uma comitiva para apurar os fatos. Em relatos anteriores, constam várias denúncias, na ocasião, a empresa foi autuada por possuir qualidade de assistência técnica ruim. A empresa também já foi alvo de denúncias e críticas do ambientalista Judson Barros, das jornalistas Tânia Martins e Beatriz Camargo. Entre outras denúncias trabalho escravo, trabalho infantil, maus tratos com os colonos e queima de madeira para carvoaria. Na época, A DRT flagrou na fazenda a prática de trabalho escravo e encaminhou um relatório a Procuradoria Geral da República.
Nos últimos dias a revista nacional RollingStone bateu forte na empresa falando da queima de madeira para carvão, citando: "A unidade piauiense da Brasil Ecodiesel, que supostamente deveria cultivar mamona para a produção de biodiesel, hoje se dedica quase que exclusivamente à atividade carvoeira. O Piauí é a última fronteira agrícola do país, onde as atividades econômicas, por mais predatórias que sejam, recebem a alcunha de progresso, um verdadeiro absurdo!".
A dependência financeira e às más condições de trabalho que as 300 famílias contratadas pelo projeto têm desde que assinaram contrato com a empresa, é notório. A cada família foram destinados sete hectares, cinco para o plantio de mamona e dois para feijão. Do total da produção da mamona 30% é para a empresa e os 70% que sobram é destinado a cobrir o adiantamento de safra que atualmente é de apenas R$ 160 reais.
Em 2006 e 2007 a empresa já não havia atingido a média real de produção. Este ano com as fortes chuvas em todo o Piauí, a expectativa é de que a produção não supere se quer os míseros 20%. Com isso a especulação de abandono pelos colaboradores é alta.
Grande parte das 300 famílias que residem no local estão desestimulados com a situação. Alguns falam em ir embora, pois o descontentamento e a falta de esperança são grandes. As famílias que vivem no local sobrevivem de pequenos trabalhos como artesanatos e hortas para ter o mínimo de dignidade.
BIOCOMBUSTÍVEL - Embora revestido de apostas otimistas, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) do governo federal tem recebido críticas de duas frentes. Indústrias querem contratos de compra e venda, regidos pelo mercado financeiro e não mais por leilões, enquanto pequenos agricultores consideram que o mecanismo utilizado é ineficiente para gerar renda para as suas famílias.
Cada litro de combustível colocado em veículos a diesel desde o início de 2008 passou a conter 2% de biodiesel. O plano original é aumentar a porcentagem do biodiesel no diesel para 5% em 2013, mas o governo já anunciou que estuda ampliar essa participação antes do previsto, determinando a adição de 3% em 2009. A grande dúvida que se refere ao Piauí será de que forma a empresa que está trabalhando no estado, Brasil Ecodiesel, fará para superar metas e contribuir com o real crescimento do biocombustível sem escravizar seus colonos e dando condições de vida digna, melhorando as situações de injustiça (no que tange desrespeito aos direitos humanos, condições sociais e estruturais sub-humanas).
Fundada em 2001, a Repórter Brasil tem como objetivo fomentar a reflexão e ação sobre as diversas situações de injustiça que se fazem presentes em nossa sociedade, tanto nos casos de flagrante desrespeito aos direitos humanos, como nas condições sociais e estruturais sub-humanas de vida. Nesse ponto, toma uma clara e inequívoca opção pelos empobrecidos e marginalizados, no que se refere à realidade política, econômica, social, cultural e ambiental do país.
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Jornalista Verena Glass
