30 de agosto de 2008

Será apenas fuxico?

Artigo de autoria do Jornalista Jânio Pinheiro de Holanda

Coisas da política! É o que podemos denominar certos episódios recheados de entreveros entre ex-correligionários, principalmente quando há interesses contrariados. Na atual conjuntura política, dificilmente um auxiliar oxonerado do cargo deixa de carregar alguma mágoa do ex-chefe. Neste sentido, a história política do Piauí mostra inúmeros exemplos que estão ao alcance da mente do cidadão comum. Porém, no antepassado, os “fuxicos” ficavam apenas na boca do povo. Hoje, já estão pairando nas barras da justiça.

A questão dos grampos sobre a suposta fraude na licitação para compras de livros didáticos envolvendo pessoas de vários setores do governo do Estado carece de investigação. Entretanto, com a negativa de um dos principais atores envolvidos parece-me que a coisa vai ficar apenas no blá-bla-blá. Fragmentação , falta de compromisso programático, intrigas entre caciques, golpes baixos... Esse repertório de significados vem de imediato à mente de quem ouve falar em "contrariação”, por isso certas acusações não devem merecer credibilidade.

Será que esse episódio não seria apenas uma anedótica grita de perdedores. A imprensa mostrou a denúncia formulada na íntegra pelo ex-secretário de governo Joaquim Almeida junto à Procuradoria da República. Esta, por sua vez, encaminhou para a instância superior. Resta-nos saber se daqui pra frente às investigações prossigam e a verdade venha a púbico. Afinal, as pessoas devem saber para onde está indo a sua contribuição obrigatória, cobrada através dos inúmeros impostos pelos governos, nos três níveis.

Hoje, tais questões parecem descrever uma inequação. A incógnita que poderia equalizá-la reside exatamente na operação política. O governo, através de seus secretários e porta-vozes não pode pôr-se, numa situação circunstância como esta, a favor ou contra interesses que, divergentes, são, porém, legítimos em uma sociedade aberta e democrática.Não é simples realizar análises de conjuntura nestes tempos de perplexidade e desilusão, diante da extensão do estrago que isso pode causar ao governo do PT.

Um estrago de grandes dimensões não apenas porque demonstra que esse partido surgido das lutas da classe trabalhadora contra a ditadura militar vá de encontro a uma lógica contrária aos interesses desta classe, principalmente porque se instaura um senso comum de que à esquerda no governo faz o mesmo ou pior do que à direita, vendendo–se politicamente através da corrupção. Imagino que eu não seja o único a observar que, neste momento, estamos enfiados num infindável circuito de querelas relacionadas com o nosso presente e o nosso futuro.