6 de dezembro de 2008

O verdadeiro Mandamento: Conviver bem com os outros


Artigo de autoria de Geraldo Filho (Sociólogo, Bchl e MSc: professor do CMRV/UFPI, Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação)

Outro dia encontrei o Criador, e observei que estava um tanto quanto chateado. Com a liberdade de alguns anos perguntei: “O que houve, Chefe?! Problemas com os mundos?! Ou com a nossa Terra?!”

“Como sempre os humanos, Geraldo. Veja você que eles continuam querendo se relacionar entre eles e Comigo a partir dos mandamentos, dispostos por Moisés no Velho Testamento bíblico.”

“Como assim, Criador?!”

“Geraldo, você sabe que o Velho Testamento é somente a história da formação e consolidação do Estado de Israel, do povo judeu, que mescla fatos reais com passagens mitológicas... Lembro-me inclusive que você já ensinou isso. Pode-se dizer que é a saga de um povo, como as mitologias dos gregos, nórdicos, egípcios, etc. Como era comum em tempos rudes como aqueles, em que a maioria das pessoas era inculta e analfabeta, eram necessárias leis duras, que controlassem os impulsos instintivos da massa. O líder político daquele povo, Moisés, providenciou isto, e para dar legitimidade e credibilidade a essas leis inventou que fui Eu quem as ditei para ele no Monte Sinai.”

“Mas, Criador, o Senhor sabe que bilhões de humanos acreditaram e ainda acreditam que foi assim...”

“Eu sei, Eu sei... No inicio Eu não Me importei, e você sabe que para Mim tempo nada significa, mas agora, quando aberrações começam a se acumular sob a justificativa de que não se age com rigor punitivo por causa de uma daquelas leis, do Moisés, que Eu supostamente promulguei, aí não!!! Tudo tem limites!! Pelo menos para os humanos!”


“Mas, aonde o Senhor quer chegar?!”

“Bem, quando os judeus começaram a elaborar a noção de um único deus (monoteísmo), no meio do cipoal de deuses dos povos politeístas da Antiguidade, particularmente ali, naquela região que hoje chamam de Oriente Médio, disse para Mim mesmo: Eis um povo intelectualmente sofisticado. No entanto, esperei que eles compreendessem que um deus monoteísta não poderia ser somente deles, deveria ser de todos os povos. Portanto, não o deus de um estado-nação, como no Velho Testamento, mas um deus universal, de todos os humanos. Porém, o que aconteceu?! Os judeus começaram a se achar o povo eleito, melhores do que os outros... e aí Eu perdi a esperança!”

“Mas, o Senhor não tentou consertar isso, enviando Cristo?!”

“Exato, Geraldo. Manifestei-me através de um dos mensageiros que tinha a dura missão de elaborar a noção de um deus universal, por sinal gostei da imagem romana através da qual Ele se consagrou e é esta como você Me vê.”

“Mas, Chefe, os humanos não entenderam essa redefinição de Deus do Velho para o Novo Testamento. Continuam achando que foi o Senhor quem ditou as tais leis...”

“Pois é, Geraldo, e aí Minha chateação! Por exemplo, Eu sei que pessoas lhe procuram para conversar sobre problemas com os pais, alguns bem graves. Sei também que você sabe da maldade cometida por muitos pais contra os filhos. Não gosto nem de lembrar do caso da menininha Isabela Nardoni, fora as muitas violências sexuais cometidas contra filhos, etc. Sei o quanto você se angustia por não poder fazer muito mais, para aliviar a dor destes que sofrem. Boa parte dos problemas entre pais e filhos seriam resolvidos se a tal lei que os religiosos, teimosos, ainda dizem que é minha e que preceitua que se deve ‘Honrar pai e mãe’ sofresse um retoque.”

“Mas, como ficaria então essa lei?!”

“Todo humano deve honrar pai e mãe, desde que ele também seja honrado pelos pais. Vamos substituir honrar por respeitar e cuidar, que fica melhor ainda. Se essa relação for por algum motivo rompida, não há porque haver dor de consciência quanto ao destino daquele que infringe a lei. Pais que matam filhos indefesos, como os casos Nardoni e dos dois irmãos esquartejados em São Paulo, pelo pai e a madrasta, devem ser eliminados, pois não podem viver entre humanos.”

“Mas, Criador, apesar de concordar integralmente com o Senhor, paira uma dúvida. Do jeito que o Senhor propôs a mudança na lei dos pais teremos que modificar também uma outra, aquela que diz: ‘Não matarás o teu próximo’”.

“E qual o problema, Geraldo?! Essa lei também é distorcida. Devemos proteger aqueles que querem viver e conviver, ou seja, aqueles que desejam estar bem vivendo juntos e em harmonia com os outros humanos, pois este é o único e verdadeiro desafio para a humanidade, depois que Eu lhe concedi a consciência plena de sua existência. Este é o real mandamento ‘Viver bem uns com os outros’”.

“Criador, o mais importante dos mandamentos, pelo menos a sua síntese, não é o ‘Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo’”.

“Ah, ah, ah...! Geraldo, não me faça rir! Esse mandamento é uma tolice. Você Me conhece e sabe que Eu não sou um tirano absolutista que exige tudo para si, longe de Mim. Então, por que Eu criaria bilhões e bilhões de pessoas para ficarem Me adorando e amando o tempo todo?! E ainda mais, acima de tudo e todos?! Seria, de Minha parte, uma atitude desvairada de egoísmo e vaidade. Se Eu sou o Criador, para quê um monte infindável de gente, que Eu mesmo dei a vida, Me lembrando todo o tempo de quem Eu sou? Tolice, portanto!”

“Observe a parte do mandamento ‘Amar ao próximo como a si mesmo’. Quem faz isso, Geraldo?! É claro que o desafio maior é conviver bem com todos, e isso implica em cuidar daqueles de quem gostamos mas, para fazer tudo isso, primeiro devemos nos amar e cuidar de nós mesmos, nosso corpo e nossa alma, depois iremos cuidar dos outros, e aí desempenharemos bem esta ação. Quando não se compreende dessa maneira esse mandamento, fica-se com peso na consciência diante da incapacidade de se amar o tal próximo como a si mesmo.

“Bom, Chefe, o Senhor é o Criador, e como sempre acredito que o Senhor está certo.”

“Isso, Geraldo. Escreva sobre as leis de Moisés e as reinterprete segundo minhas orientações, hoje já revisamos três delas. Agora ao lazer, pois esses temas humanos são uma chatice. É Miguel que está hoje na acessória.”