Alimento, Atividade e Amor (*)
O ser dito racional vive num enroscado processo evolutivo e acelerada busca da felicidade, comprometido consigo mesmo enquanto finge que se compromete com o outro. Ele anda cada vez mais confuso e se perguntando por que. Não tenho a menor idéia do que isso significa e muito menos como chegamos até aqui, mas o fato é que estamos sob o efeito de estranhas forças, forças estas que nos deixam cada vez mais confusos e em estado de permanente conflito interno.
Após algumas observações, certamente já feita por outros, usando meu minúsculo potencial racional que parece existir em minha frágil e imatura mente, percebi que é mais fácil ser feliz do que infeliz. Em verdade, pode até parecer absurdo, mas escolhi apenas três palavras da língua portuguesa para representar minha teoria do bom viver.
Assim, iniciamos com a palavra ALIMENTO, que representa o potencial energético, sustentáculo da matéria corpórea, que mantém em funcionamento, órgãos e sistemas vitais do corpo e também do não-corpo. Alimentar-se bem não possui regra única, antes requer respeito ao princípio da individualidade (idade, sexo, crenças pessoais, estado de saúde, costumes, horários disponíveis, estações do ano, localização regional no globo terrestre, etc.). Um fundamento, porém não pode ficar de fora. Trata-se na noção de extremos, isto é, nem tanto, nem tão pouco, nem todos os alimentos nem somente alguns poucos. Alimentar-se bem é uma das tarefas mais difíceis na vida que deve ser exercida com arte e sabedoria, e cujo princípio básico repousa na noção de equilíbrio. Sem equilíbrio e controle do que ingerimos, podemos sofrer conseqüências graves e danosas à nossa máquina corporal.
Outro principio fundamental da vida e que também se inicia com a letra “A” é o princípio da “ATIVIDADE”. Após o primeiro batimento cardíaco diz-se que o ser humano necessita ser ativo, exercitar os movimentos fetais deixando clara a mensagem de que somos seres feitos para viver em constante e permanente atividade. Por isso somos seres inquietos que tudo fazemos para que a vida tenha sentido. As atividades desenvolvidas por todos nós, seguem também o princípio da individualidade dispensando o uso de regras matemáticas ou de receitas prontas. Tudo o que nos propusermos a fazer é atividade. Algumas constroem melhor a vida enquanto outras nos deixam vulneráveis e por vezes completamente impotentes e incapazes de responder a estímulos que nos fazem mais felizes. Atividades funcionais, físicas, de lazer, de prazer, sexuais, espirituais, sensoriais, sentimentais, sociais e outras constituem exemplos de como a vida precisa ser ativa, e até o simples fato de nada fazermos em determinado momento, pode ser considerado exercício de uma atividade. O equilíbrio no modo de manter-se ativo traz consigo os bons (ou maus) resultados da nossa forma de viver.
Finalmente o AMOR, não é mais nem menos importante que os dois princípios citados anteriormente. Também não ocupa o primeiro nem último lugar, pois a exemplo dos pontos já descritos o amor também não possui regras únicas, unidirecionais ou “engessadas”. O Amor possui ampla liberdade de definição, segue princípios individuais e coletivos, relaciona-se ao concreto e ao abstrato, podendo ser físico, mental ou espiritual, sexual ou fraterno, correspondido ou desprezado, próprio ou em relação a terceiros. O amor é tão amplo que poderíamos mesmo dizer que ele é o mais multifacetado dos sentimentos. O amor não pode ser solicitado, ele será sempre sentido de forma espontânea por um sujeito ativo. Seres inanimados não amam. Pedir a alguém ame algo ou alguém qualquer coisa de inimaginável e inatingível. O amor simplesmente emana da essência de um ser em direção a si mesmo ou a outro ser ou objeto. Portanto, ao amar o quem ou o que quer que seja, o ser humano tudo faz e nada mais precisa ser feito eis que o só fato de amar já se constitui na essência de tudo o que o amor representa. Não há amor excessivo nem apequenado, próprio nem de outrem, e sim distorção na percepção ou ausência de amor, causando por vezes danos na construção das relações conosco (egoísmo) ou com aqueles que nos cercam, pois podemos ser simultaneamente sujeito e objeto da relação de amor. O amor desconhece passado, presente e futuro. Desconhece distância geográfica, cor, raça, origem étnica, situação social ou econômica. Mas também possui no equilíbrio seu elemento essencial. Diz-se até que “amor sem equilíbrio” não é amor, é desamor.
Portanto, alimente-se bem, mantenha-se em atividade e fundamentalmente ame com equilíbrio e moderação.
(*) JOSÉ OSVALDO GOMES SANTOS é médico ortopedista e presidente do Sindicato dos Médicos em Parnaíba-PI