Estamos a assistir cotidianamente situações preocupantes, que logo viram manchete e motivo de comentários nos principais meios de comunicação, levando-os a atingir os maiores picos de audiência e desviando a atenção das onipresentes e “culturais” telenovelas. Já faz algum tempo que a sucessão de notícias envolvendo a criminalidade é algo impressionante, já quase não conseguimos dormir sem comentar o último escândalo de corrupção, seqüestro ou assalto. São tantos e tão graves os acontecimentos que ficamos atônitos e estarrecidos a nos perguntar: Há alguma explicação para isso?
Acuados e impotentes diante das circunstâncias somos tomados pelo enorme desejo e necessidade de compreender e explicar o que ocorre, porque ocorre. Nos apercebemos muitas vezes que a sociedade estabelece uma espécie de “hierarquia” dos crimes. É aí que passamos a questionar seus efeitos no seio social e o verdadeiro papel dos meios utilizados na sua prática. Afinal, qual crime é socialmente mais grave, a corrupção, o assalto ou o seqüestro? Quem leva mais milhões com um disparo? Que instrumento é mais perigoso em “mãos erradas”, o truculento revólver ou a elegante caneta? Quem causa maior dano à sociedade, a licitação fraudulenta, a obra superfaturada ou o assalto na calçada? Quem mata mais afinal? A fome, o analfabetismo e a doença ou o fuzil e a escopeta dos bandos criminosos? O que é mais devastador, a caneta ou o revolver?
Neste emaranhado de questões temos muitas indagações e quase nenhuma resposta, pois quando se trata de avaliar a criminalidade, seja o crime praticado com o uso da violência seja o crime de colarinho branco sorrateiramente praticado temos uma só resultante: Danos sociais individuais e coletivos irreparáveis. Não estamos aqui defendendo que crimes que atingem uma pequena parcela da sociedade sejam “aceitáveis”, pois todas as formas de violação dos direitos de outrem são igualmente inadmissíveis. Estamos apenas lançando uma reflexão sobre a gravidade e a necessidade de punição exemplar dos crimes que, aparentemente, possuem “menor potencial ofensivo”, aquele do qual as pessoas “não tem medo”, aquele “que não é com você”, como por exemplo a corrupção.
O corrupto é tão ou mais criminoso que o assaltante do mesmo modo que o fraudador é tão ou mais criminoso que o sequestrador. O que muda é o “modus operandi” e a extensão do dano, mas tanto em um como em outro caso, as seqüelas sociais são irreparáveis. Temos a impressão, caros leitores, que desde os primeiros tempos, quando o homem ainda vivia em estágio dito de “selvageria”, pouca coisa mudou. Sofisticaram-se os métodos, mas em essência nossa espécie continua tão primitiva quanto antes.
Dr. José Osvaldo
Médico Ortopedista