Já se passaram muitos anos. Foi ainda no tempo em que o Brasil vivia sob o regime imperial. Um talentoso intelectual estufou o largo peito brasileiro para dizer sem tergiversar: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”.
Pois bem: Imbuído da grandeza desta missão fogosamente defendida pelo nosso bravo Imperador Pedro II, e depois de aconselhado por alguns acadêmicos, o dinâmico professor José Nelson de Carvalho Pires, com 85 anos de idade, apresentou-se à Academia Parnaibana de Letras como candidato à cadeira vaga com o falecimento do confrade Chagas Rodrigues.
Com o mesmo propósito, e com a idade de 20 anos – 65 primaveras de diferença para o seu único concorrente, também se inscreveu o poeta Diego Mendes Sousa.
O professor, amigo pessoal dos irmãos João Paulo e Antônio Augusto, ambos dos Reis Veloso e membros do referido sodalício parnaibano – cadeiras 11 e 16, respectivamente.
O poeta, na condição de muito jovem e não podendo, por isto mesmo, contar com velhas amizades consolidadas ao longo do tempo, entrou na disputa apenas com suas obras publicadas e com a interessante condição de primo neto do respeitado Ferreira Gullar, considerado por muitos críticos como um dos mais importantes poetas brasileiros surgidos após o movimento modernista de 1922.
Vieram as eleições. Primeiro aconteceu um empate, cada candidato com 10 votos, e a soberania da Comissão Eleitoral, legalmente constituída, superando até mesmo a Lei 10.741/2003, opinou pela necessidade de um segundo pleito.
No segundo escrutínio, concorrendo sozinho contra o Regimento Interno da Casa, o jovem autor de valorosos poemas modernos que lembram o estilo do “Poema Sujo” do seu tio avô, não conseguiu se eleger. Faltaram alguns dos votos que lhe foram dados na primeira votação.
O professor preferiu não concorrer nesta segunda disputa, enviou carta à Presidência, justificando sua determinação e declarando-se desiludido principalmente com alguns acadêmicos que, segundo informa, teriam lhe incentivado a entrar em tão temerária contenda.
Torcemos para que o professor José Nelson não permaneça contrariado com a Academia pelo resultado desta disputa como declarou na referida carta. Até mesmo porque já ensinou Josué Montello, em efusivo discurso proferido na ABL, que: “A Academia não derrota ninguém, os candidatos é que às vezes não sabem escolher o momento exato para apresentarem as suas candidaturas”.
E mais: o professor José Nelson, tarimbado mestre de ginástica e também do idioma de Sarkozy, homem deveras trabalhador; cidadão que há bem pouco tempo, sem sequer queixar-se de sua idade, envolveu-se no pavilhão nacional e trepado num caminhão saiu, gloriosamente, às ruas em defesa da instalação da amuada ZPE de Parnaíba, não tem o direito de sentir-se derrotado. Se não saiu vencedor na eleição onde houve o empate foi somente por falta de um voto apenas, quem sabe se aquele de um dos Veloso, o que não pode votar por algum motivo relevante.
O certo é que não houve derrota. Houve, no máximo, uma pequena queda, um leve tropeço, o que é comum em qualquer pleito eleitoral. E aqui vale o ensinamento do poeta. Não do vate que foi seu concorrente. Ensinamento do poeta maior, do genial romântico Antônio de Castro Alves. No seu poema “O Século”, gigantesca composição poética que abre o seu livro póstumo intitulado os Escravos: “Quem cai na luta com glória, tomba nos braços da história, no coração do Brasil.”.
Por Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos
Ilustração: Fernando Antonio de Castro