Dois distintos sujeitos se conheceram em uma pizzaria no subúrbio de uma pacata cidade universitária, localizada próximo do abismo, à margem da decadência, nas imediações do futuro incerto. O saber era um sujeito muito bem projetado na sociedade, admirado por muitos, até mesmo invejado por aqueles inocentes ambiciosos. Já o sabido, sujeito modesto, de pouca admiração, rejeitado pelos detentores da moralidade local.
Com o passar dos tempos, esses dois personagens passaram a servir de exemplo, polarizando e influenciando nos rumos da citada região. Foi quando surgiu uma grande idéia de que se deveria divulgar vantagens e desvantagens que cada um deles apresentava. Então o saber, julgando-se mais importante, apresentou seu vasto currículo com o seguinte conteúdo: o saber era formado, e graduado pelas melhores faculdades de ensino do mundo, com doutorado e pós doutorado em ciências da sapiência, com diversas publicações e pesquisas afins, de quase tudo sabia, pois tinha um grande histórico de descobertas, porém não era o detentor da aplicabilidade de seus conhecimento, que ficava em outras mãos para que fosse utilizado em benefício de todos, menos em seu próprio benefício. Em muitos casos, foi vítima de seus próprios experimentos, para que fosse bem testado e não prejudicasse a terceiros.
Tal personagem sentia-se confiável e acomodado com a certeza de que obteria sucesso absoluto, entendia que inexistiam competidores e concorrentes para seus grandes feitos. Tinha tanta confiança no que fazia, que mal se preocupava com os resultados. Já o sabido, dava pouca ou nenhuma importância à formação acadêmica, pois todo seu conhecimento era colhido de observações empíricas, sem qualquer registro ou documentação. Em alguns casos, uma simples “bajulação” poderia lhe render algumas divisas. Para ser chamado de doutor, necessitava apenas de poder e dinheiro. Seu prestígio era imensurável, uma vez que ditava as regras e lançava seus investimentos nas oportunidades, custasse o que custasse, pois o escrúpulo passava-lhe ao largo, detendo apenas o instinto do oportunismo, mudando na hora de mudar, permanecendo no momento de ficar.
O sabido não está preocupado com o futuro dos outros, e sim, somente com o seu e enquanto vida tivesse, tirar proveito da situação é a palavra chave. Se tem muitos morrendo de fome, então, que tal produzir caixões ou quem sabe cemitérios e sepulturas com “precinho acessível”. Sujeito desconfiado, quer está sempre do lado que está ganhando, tem amor pelo sucesso e pelo oportunismo deliberado. Entre essas duas personalidades, há coisas em comum; seus propósitos convergem para a aquisição de valores, porém, a materialidade e a espiritualidade dos fins talvez seja o ponto de divergência. Diante do aqui exposto, analisado pelo instinto crítico e reflexivo pergunto: é melhor saber ou ser sabido?
Dr. José Osvaldo
Médico Ortopedista