* Artigo de autoria de Vicente de Paula Araújo Silva (Potência)
A denominada Rota das Emoções, é a exploração organizada do turismo regional por um consórcio formado pelos estados do Ceará, Piauí e Maranhão. Efetivamente, essa região tem muitos fatos históricos em comum a partir do século XVII. A Barra Grande está inserida nesse contexto. A sua atual condição de zona litorânea do município de Cajueiro da Praia, tem uma trajetória de lutas ao longo dos tempos a partir de 1604, quando Pero Coelho de Sousa, vindo da Paraíba chega a foz do Camocim e segue para a Serra da Ibiapaba com o objetivo de expulsar os franceses lá estabelecidos desde 1590, iniciando-se então, o processo de colonização pelos portugueses, da região em tela. que tem muitas estórias registradas ao longo dos tempos, dentre as quais salientam-se: Em 1607, partem de Recife com destino ao Maranhão, os padres da Companhia de Jesus, Luís Figueira e Francisco Pinto, sendo este último morto pelos tapuias - simpatizantes dos franceses - em 11/01/1608; Em 1612, os franceses integrantes da expedição de Razilly e Daniel de La Touche, que estavam em viagem para a implantação da Colônia francesa na ilha do Maranhão, aportaram na Ponta de Jericoacoara; em 1613, Jerônimo de Albuquerque, parte de Recife rumo ao Maranhão com o fim de expulsar os franceses que lá estavam; em 1656, partindo do Maranhão, por terra, após 35 dias de viagem, chegaram a Serra da Ibiapaba, os jesuítas Pe. Antonio Ribeiro e Pedro Pedrosa, implantando então, a missão da Ibiapaba; Em 03/03/1660, partem do Maranhão em visita à missão da Ibiapaba, os jesuítas Pe. Antonio Vieira e Gonçalo Veras, acompanhados do tapuia Jorge Ticuna, filho do chefe Algodão, que havia retornado da viagem a Portugal para agradecer a El Rei, a presença da missão jesuíta na serra da Ibiapaba.
Assim, oficialmente, o Pe. Gonçalo Veras foi o primeiro membro da família Veras a estar nos Estados do Maranhão, Piauí e Ceará. Outros Veras estabeleceram-se na região. Em 19/07/1705, o Cel. João Pereira Veras e sua mulher, receberam sesmarias de terras a partir do mar pelo rio Acaraú. Entretanto, foi o cearense Domingos Ferreira de Veras, neto dos portugueses naturais do Porto, Tomás Pereira de Veras e Joana da Costa Medeiros, quem introduziu a família Ferreira Veras na região compreendida entre a orla marítima da ribeira do Acaraú ao delta do rio Parnaíba, incluindo as serras Meruoca, Ibiapaba e os vales dos rios existentes nessa área.
Os Veras da Barra Grande, são descendentes da miscigenação de pescadores chegados da praia de Bitupitá com os nativos tremembés e comboieiros vindos do sertão cearense e das serras Meruoca e Ibiapaba. Atualmente, compõem esses clãs familiares os sobrenomes: Ferreira Veras, Teles, Barroso, Pereira, Sousa, Araújo, Cardoso, Soares, Damasceno, Santos e Fontenele, entre outros. Essa aprazível praia, está situada entre as barras dos rios Timonha e Camurupim, e até a primeira metade do século XVIII, gentios tapuias da nação Tremembé, ainda habitavam na aldeia do Aracati Mirim, localizada entre o mar e o lugar hoje conhecido como Tapera, nas proximidades do salgado Pirá.
A cumplicidade do abastado fazendeiro cearense Domingos Ferreira de Veras com a Barra Grande, data da primeira metade do século XVIII, fato comprovado pelo registro de batismo a seguir, transcrito do Liv. Missão Velha, 1740/1747, fl. 119v: “Aos oito dias de abril de mil setecentos e quarenta e três, na Faz. Tiaya, em casa do Cel. Domingos Ferreira de Veras, bautizei a Vicente, filho de Vicente e sua mulher de nação Tremembé, e lhes pus os Santos óleos. Item no mesmo dia bautizei a Quitéria da nação Tremembé. Todos estes tapuias assima ditos são do rancho do tapuia velho chamado Machado que há muitos annos vivem sobre si e assistem entre a barra do rio Timonha e a barra do rio Camoripim junto a beira do mar, pertencentes a aldeia do Aracati Mirim, cita nesta freguezia de Nossa Senhora da Conceição do Acaracu. Pe. Lourenço Gomes Lelou, cura e vigº da Vara do Acaracu”.
* O articulista teve as avós materna e paterna, Gonçala Ferreira Veras e Joana Alves Teles, nascidas no final do século XIX, nas localidades Arara e Leitão, próximas a Praia de Bitupitá, atualmente município de Barroquinha (CE)., sendo as mesmas parentes próximas das famílias Teles e Veras da Barra Grande.