Artigo de autoria de Geraldo Filho - Sociólogo, Bchl e MSc: professor do CMRV/UFPI
Os alunos universitários, quando entram nas faculdades, acreditam que se libertaram da alienação do fundamental e do médio, pois deixariam de estudar assuntos sem conexão com a realidade, como normalmente acontece nestes dois níveis de ensino.
O raciocínio não está errado, afinal eles optaram por uma faculdade do seu interesse, que corresponde a uma determinada ciência. No entanto, é surpreendente como já no 2º semestre dos cursos alunos começam a sinalizar com o desencanto, o tédio, a decepção, sua tristeza com a realidade das salas de aula.
Para começar, há uma crise de “flashback”. Os alunos começam a pressentir que os conteúdos estudados, tal qual no fundamental e no médio, não têm aplicabilidade no mundo real do mercado, o que por sua vez implica sua própria empregabilidade no mercado de trabalho.
Essa situação se agrava porque os alunos, em contato com profissionais formados nas suas áreas de escolha, muitas vezes ouvem que quase nada utilizam do aprendizado superior no cotidiano prático do mundo do trabalho. Portanto, justifica-se a crise de desinteresse, pois vive-se uma sensação de perda de tempo.
O “flashback” continua, agora reproduzindo outra característica do fundamental e do médio. Mesmo que o número de disciplinas de um curso superior, por semestre, seja em média 50% inferior ao número de disciplinas de um ano letivo do médio, os professores se encarregam de acabar com a vantagem desse maior tempo livre para estudo, que poderia ser utilizado para o aprofundamento qualitativo de temas realmente importantes para o profissional, sobrecarregando os alunos com trabalhos e seminários inúteis, quando não aplicam provas com uma bibliografia imensa.
Qual o objetivo dessa pedagogia da quantidade?! Ensinar muito os alunos?! Não. Inseguros pelo pouco conhecimento e empavonados pela vaidade de títulos ocos, os professores aterrorizam os jovens alunos com a ameaça da reprovação. Portanto, se o que era para ser prazeroso tornou-se horroroso, justifica-se, mais uma vez, o desinteresse.
Finalmente, uma idéia tola, para infelicidade dos alunos, tomou de conta das universidades brasileiras. A de que todo mundo deve ser cientista. Em nome dessa maluquice, alunos de educação, em vez de aprenderem a dar aula, são obrigados a elaborar monografias, pensando nos pré-projetos já no 2º semestre do curso; alunos de administração, que deveriam ser treinados para gerenciar e liderar empresas, desesperam-se com a elaboração de hipóteses e técnicas de pesquisa; até alunos de direito, que deveriam estudar a arte da retórica (o ethos, o pathos e o logos), para o trato com os códigos jurídicos, são afastados de sua verdadeira arte para escreverem “trabalhos científicos”.
A ciência brasileira, internacionalmente falando, é insignificante. A causa não é a falta de talentos, mas a morte deles, soterrados pela burocracia de grades curriculares que os desestimulam e sufocam com conhecimentos inúteis, e por professores ruins, que conseguiram este posto após passarem por etapas seletivas totalmente anacrônicas e defasadas face ao mundo atual.
Não há mérito nenhum em ter maioria de alunos reprovados ou desistentes em uma disciplina. Isto não significa que o professor sabe muito e que a matéria é difícil. Porém, que, provavelmente, ali existe um problema: o professor não domina nem a sua arte e nem a arte de trazer seus alunos do desconhecimento para a luz da ciência.