O evento reúne agricultores do Semiárido para discutir o papel das famílias agricultoras na construção das políticas públicas de convivência com o Semiárido.
Dona Mirtes sai do município de Apuiaré, a 111 quilômetros de Fortaleza. Já Dona Vitória, vai sair de Castelo do Piauí, município no Semiárido piauiense. E Seu Deraldo está vindo de Porteirinha, no Norte de Minas Gerais. O destino deles é o mesmo: II Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido, que acontecerá de 27 a 29 de abril, em Pesqueira, no agreste de Pernambuco.
No Encontro, Dona Mirtes, Seu Deraldo e Dona Vitória vão se unir a outros 200 agricultores e agricultoras de todo o Semiárido brasileiro. O que os une no evento é a capacidade de criar alternativas para se adaptar à região semiárida. Por isso que eles ganham o adjetivo de “experimentadores”.
O Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido organiza sua delegação para participar do encontro. Serão 20 participantes, agricultores e agricultoras como Dona Vitória levarão suas experiências para serem compartilhadas com outras dezenas de agricultores do nordeste e também de outros Países.
Ao promover o encontro de agricultores e agricultoras de diversas regiões do Semiárido, a ASA reconhece e valoriza o saber tradicional de quem cuida da terra. Esse saber permite uma melhor adaptação às condições semiáridas. Por isso, constam na programação do evento visitas a campo.
“Nas visitas, a idéia é que as famílias anfitriãs apresentem sua trajetória de inovação desde a constituição do núcleo familiar, estratégias de acesso a terra, processos de constituição das infraestruturas hídricas, dos sistemas pecuários, da produção de alimentos e segurança alimentar, distribuição do trabalho nas famílias e das relações de gênero e estratégias de acesso aos mercados”, explica Antônio Barbosa, coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
O P1+2 é um dos programas da ASA, cujo foco é propiciar às famílias tecnologias sociais para armazenamento de água para produção de alimentos, como também infraestrutura mínima para a manutenção do quintal produtivo (terreno ao redor onde se planta pequenas hortas, plantas medicinais e para criação de pequenos animais).
Programação – No Encontro, estão previstas mesas redondas sobre políticas públicas para a convivência com o Semiárido. Uma, com participação de representantes do governo e da ASA, trata das inovações da agricultura familiar na construção de políticas públicas. A outra mesa formada por agricultores e agricultoras vai refletir o papel dos experimentadores na construção dessas políticas.
Um ato público vai encerrar o encontro, na manhã do dia 29. Cerca de mil agricultores e agricultoras de comunidades rurais do agreste de Pernambuco se encontrarão com os participantes do encontro num cortejo pelas ruas centrais de Pesqueira. Ao final da caminhada, haverá apresentações de grupos da cultura local como bandas de forró pé-de-serra e o grupo Coco Raízes de Arcoverde.
Convidados especiais – Representantes dos Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, do Governo de Pernambuco e do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) foram convidados para participar do Encontro. Agricultores que moram na região do Chaco, que abrange território da Argentina, Bolívia e Paraguai e tem características semelhantes às do Semiárido brasileiro, estão com presença confirmada.
O evento é realizado pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA Brasil) e apoiado pelo MDS, Ministério o Desenvolvimento Agrário, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Agência de Cooperação Espanhola, Instituto Ambiental Brasil Sustentável, Fundação Avina e Heifer.
Agricultura familiar no Semiárido – A região é o endereço de 80% das famílias agricultoras do Brasil. Dados oficiais afirmam que 60% dos alimentos que abastecem o mercado interno vêm da agricultura familiar. Esta atividade emprega 77% dos 17 milhões de brasileiros que trabalham no campo.
Apesar de importantes para o país, a agricultura familiar e o Semiárido nem sempre são reconhecidos pelo seu potencial socioeconômico. Por trás disto, há um conjunto de valores (como o não reconhecimento do saber tradicional das famílias agricultoras) e condições sociopolítica e econômica (grandes latifúndios, concentração de água, etc) que geram uma falsa ideia de que é impossível uma família agricultora ter uma vida digna no Semiárido. Como conseqüência disto, podemos citar o abandono da terra e a migração para as grandes cidades (êxodo rural).
A ASA surge do intuito de organizações que já atuavam no Semiárido de quebrar este círculo vicioso (desvalorização do saber tradicional - baixa autoestima das famílias agricultoras - negação de direitos à água, à terra, à segurança alimentar e nutricional – etc). A ação desta rede com mais de mil organizações da sociedade civil tem influenciado a criação de políticas públicas de convivência com o Semiárido, com mudanças sociais, econômicas e ambientais na região.
Confira os resultados da ASA:
P1MC
326.719 – Cisternas de 16 mil litros construídas
• 5 bilhões de litros de água potável acumulada.
• 1.633.595 pessoas beneficiadas
327.000 – Famílias mobilizadas
3266.719 – Famílias capacitadas em Gestão de Recursos Hídricos
11.000 – Pedreiras/os
4.560 – Construtoras/es de bomba
1.076 – Municípios
O P1MC incentiva o controle social em diversos níveis:
769 reuniões e encontros nacional, estaduais, microrregionais, municipais e comunitários foram realizados.
30.397 pessoas participaram desses momentos.
P1+2
10.929 famílias beneficiadas
• 54.645pessoas beneficiadas
6.983 implementações
• 6.325 cisternas-calçadão construídas
• 395 barragens subterrâneas
• 262 tanques de pedra
• 1 barreiro
6.242 pessoas participaram de intercâmbios
AsaCom no Piauí
Assessoria de Comunicação da Asa Brasil