Por Fernando Gomes, sociólogo,
cidadão, eleitor e contribuinte parnaibano.
Uma jovem levava consigo uma cartolina
com a seguinte inscrição: “E que somente os beijos me tapem a
boca...”. Era uma das tantas expressões registradas numa
manifestação de protesto contra a corrupção realizada em
Parnaíba. A criatividade da nossa juventude se fez presente nos
cartazes e nas palavras de ordem na passeata que descia a Avenida São
Sebastião com cerca de 3.000 pessoas. Uma beleza de se ver!
Contrariando a ideia de que nossos
jovens são alienados e não estão “nem aí” para a política, a
“geração coca-cola” desmontou cientistas políticos, sociólogos
e outros profissionais que analisam a política brasileira. Sem uma
“agenda definida” e sem atrelamento a partidos políticos os
jovens vão à rua manifestar o repúdio à forma de governar que
assola o território nacional de forma vil e corrupta.
Por todo o Brasil, reúnem
reivindicações que vão desde o inicial reclame pelo aumento das
tarifas do transporte público até a ineficiência do estado
brasileiro, em todas as esferas de poder (federal, estadual e
municipal) no que tange às políticas públicas de saúde, educação,
segurança, dentre outras.
Todas essas reivindicações têm uma
mesma raiz, o mesmo mal causador, nascem da corrupção que se
espalhou desavergonhadamente pelo país. O povo brasileiro não
suporta mais tanta ladroagem, nem a sentença da impunidade que
estimula e acentua a pilantragem. Esta semana um ex-prefeito de
Cajueiro da Praia foi preso e o ex-prefeito de Parnaíba sendo
condenado à prisão. As coisas estão mudando!
Não há outro fenômeno sociológico a
ser buscado para entender a juventude nas ruas. É a corrupção
desenfreada que sacrifica o povo e mantém uma casta de “intocáveis”.
O que chama mesmo a atenção e faz ganhar adeptos é a forma alegre,
pacífica e responsável com que a nossa juventude alia sua
irreverência à crítica que se deseja externar em razão da
escancarada falta de respeito ao povo brasileiro.
“Viu? A Gente (r)existe!”, “Se a
bomba é de efeito moral, joga no Congresso!”, “Enfia os vinte
centavos no SUS”, “Queremos hospitais padrão Fifa”, “Odeio
bala de borracha, joga um halls”, “Policiais não nos machuquem
não temos hospitais!”, “Olha que legal, o Brasil parou e nem é
carnaval!”, “Vai prá PEC que te pariu!”, são alguns exemplos
estampados nos cartazes das manifestações. Uma beleza!
O importante é ressaltar que a
juventude é protagonista, mais uma vez, das mudanças que se dão
nesse país. Foi assim no período da ditadura militar, no
impeachment do Collor e, agora pela moralidade na política. O recado
foi dado. Os “representantes do povo” estão doidos. Baixaram o
preço das passagens de ônibus. A Câmara dos Deputados derrubou por
430 votos a nove a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 37) que
impedia o Ministério Público de promover investigações criminais
por conta própria. Outro projeto votado transformou a corrupção
como crime hediondo. O Supremo Tribunal determinou a prisão do
deputado federal Natan Donadan. Sinais de mudanças ou querem
resfriar o movimento popular???
O jornal A Folha de São Paulo fez uma
pesquisa sobre o perfil desses jovens que estão indo às ruas e
identificou que estão na faixa etária entre 16 e 30 anos e formam
um contingente de 42% do eleitorado brasileiro e como o próximo ano
é de eleição, tem uma “turma” preocupada com os rumos que isso
pode tomar e até mesmo como esses jovens encararão as urnas em
2014. Repetirão a abstenção anterior?
“O Brasil não vai mudar em 1 dia,
mas os dias de mudança já começaram. Hoje somos manifestantes, em
2014 seremos eleitores. Fica a dica governantes!”. A mensagem deste
cartaz exposto no RJ vale para todo o Brasil, em especial a um tipo
de governante que se elege com um discurso da moralidade, mas que se
distancia do povo e se enclausura em grupelhos. Ignora a capacidade
de aglutinação dos jovens, a importância das redes sociais e o
poder de mobilização da classe média, enxertada por emergentes da
classe “c”, antenados com a política e a economia em crise do
Brasil e de outros países.