Na noite de ontem (15) quando da visita
que fiz à família de uns amigos deparei-me com uma cena lamentável.
Estava ali, uma mãe olhando os pertences pessoais de seu filho.
Saudade estampada no rosto molhado de lágrimas. Coração partido,
dilacerado. Olhar perdido. Sentimento de impotência e descrédito no
sentido da vida. Foi como percebi a Sra. Maria Alice Sá mãe do
garoto Mailson Kelvin, brutalmente assassinado por outro garoto, após
ser abordado em roubo de um celular na noite do último dia 10 de
julho.
Quem matou Mailson? Que jovem é esse?
Por que? Por volta das 21h00 fazendo-se acompanhar de sua namorada
foi abordado por dois menores delinquentes que, apesar da pouca
idade, já têm uma extensa ficha criminal. Resultou num latrocínio,
roubo seguido de morte. Crueldade. Mailson apenas 16 anos. Os
assassinos com a mesma idade, usuários de drogas, pouca escolaridade
e de família carente, engrossam as estatísticas da violência
decorrente da dependência química.
Que sociedade é essa que não protege,
que não cuida dos seus jovens? Que governos são esses que gastam
milhões com propaganda de promoção institucional (?) e pouco se
importa com a causa das drogas? Certamente podem vir agora e dizer
que têm “projetos” para tal, mas olhando os programas sociais
aqui planejados no combate as drogas se percebe a superficialidade e
indiferença que se trata esta causa de saúde pública, como deve
ser encarada sim, caso de saúde pública!
A droga é hoje a patrocinadora de uma
verdadeira guerra civil. Jovens e suas famílias entram em destruição
social de forma assustadora, sob o olhar complacente do poder público
e nosso também. Pois se o Estado Brasileiro, nas três esferas de
poder (federal, estadual e municipal) não responde com uma política
pública séria de enfrentamento do problema, como nos organizamos
para cobrar, exigir que isso seja feito? Será preciso que uma cruel
fatalidade como esta te atinja também, me atinja também?
O nosso tecido social está
fragilizado. A família impotente. Os narcotraficantes cada vez mais
organizados, audaciosos e violentos. O Poder Público omisso e até
conivente...
Parei um pouco de escrever, pois uma
notícia na TV me chamou a atenção: Policiais do DENARC/SP foram
presos hoje por corrupção e apoio aos traficantes, inclusive o
chefe de investigação. Ora, o Denarc é o Departamento de Repressão
ao Narcotráfico do Estado de São Paulo, montado há 25 anos, com
aparato institucional invejável. Mas, não eram eles que deveriam
proteger a sociedade e prender os bandidos? Estavam do lado dos
traficantes, passando informações privilegiadas... vá entender!
Isso nos coloca o quanto é grave o
enfrentamento. Se não for um esforço conjunto dos poderes públicos
e da sociedade perderemos esta guerra, com resultados estatísticos
assombrosos. O tráfico e sua rede de distribuição promove a mais
cruel destruição humana. O jovem que entra para o sub-mundo das
drogas ingressa, quase sempre igualmente, no crime. Destrói consigo
a sua família e, na busca de alimentar o vício rouba e mata,
destruindo outras famílias.
É preciso compreender que se deve
atuar em três frentes concomitantemente: (I) repressão ao tráfico
de drogas; (II) tratamento da dependência química; (III)
desenvolvimento de políticas públicas para a juventude. Enquanto
nossos representantes não compreendem isso, vamos lamentar fatídicos
episódios.
Quantos jovens precisarão morrer para
que se encare o problema das drogas como um caso de saúde pública e
venha a produzir uma cidade mais humana e mais justa para todos???
Por Fernando Gomes, sociólogo,
cidadão, eleitor e contribuinte parnaibano