Artigo
de autoria de Geraldo Costa Filho – Sociólogo e professor
universitário (doutorando da UFC)
O
Brasil faliu! Para mim isso não constitui surpresa. Quem me
acompanha há mais de 10 anos pelo mundo virtual sabe que sem ser uma
Mãe Diná (falecida nesse mês), mas utilizando somente recursos de
análise sociológica e econômica, venho alertando para o fracasso
das instituições sociais do país, sua inadequação e falta de
sintonia com a realidade.
Por
vários artigos comentei sobre o perigo de idéias nefastas, de
natureza política, econômica, jurídica, educacional, estética...
Que vicejaram noutros países, portanto em contextos sociais e
históricos diferentes do nosso (e que lá mesmo foram repudiadas e
sepultadas), mas que aqui encontraram guarida, influenciando e
comprometendo de modo permanente a construção e o aperfeiçoamento
das instituições nacionais.
Sigo
tradição analítica que comumente se chama de “as idéias fora do
lugar”, que tem raízes na França do fim do séc. XIX, e que entre
nós remonta a Joaquim Nabuco (que logo se manifestou contra a idéia
de República, defendendo Pedro II e a monarquia parlamentar, que
deveria com o tempo se modernizar, como na Inglaterra) e a Francisco
de Oliveira Viana (outro que, já nos anos 30, condenava instituições
sociais e políticas importadas de outras realidades históricas,
logo, em franco desacordo com o cotidiano brasileiro).
Atualmente,
colhe-se o que foi semeado por essas décadas atabalhoadas! A
persistência de idéias ruins na origem e dinâmica das instituições
estimulou características mentais e comportamentais avessas à
convivência razoável entre as pessoas.
Assim,
sob a inspiração da participação popular republicana,
estendeu-se, indiscriminadamente (e demagogicamente!), o voto e o
direito a se candidatar a cargos eletivos, sem se preocupar com
qualquer cláusula de desempenho ou barreira para um e outro. O voto
de alguém capaz de discernimento mediano vale o mesmo que o de
alguém que nunca se esforçou sequer para se alfabetizar, não
obstante existam oportunidades para isso (só no tempo correspondente
à minha vida, desde o Mobral!). Por outro lado, não há cláusulas
que impeçam oportunistas e parasitas sociais de se candidatarem.
Esse direito deveria ser prerrogativa de pessoas profissionalmente
realizadas e reconhecidas por sua sociedade. Observem a qualidade dos
tipos que formam os parlamentos federal, estadual e municipal. Uma
ínfima minoria deles de fato trabalhou e era reconhecida pelo
sucesso profissional antes de se tornar político, pasmem,
“profissional”! Não vale aqui essa lorota de ser presidente de
associação de moradores ou de sindicatos, representar os outros,
com exceção dos advogados, não é profissão! Nem de ser pastor,
pois Deus não precisa de lobby para conceder favores!
Sob
o ponto de vista econômico, desde Vargas, que pretextando fomentar o
empresariado nativo e proteger a classe trabalhadora, aplicou uma
draconiana legislação tributária que impede (no presente, pois a
assertiva é válida para hoje), pelo encarecido custo, a
concorrência aberta de produtos e serviços estrangeiros contra os
nacionais, penalizando o consumidor interno com mercadorias caras e
de baixa qualidade.
Além
disso, construiu um estado de bem-estar social pantagruélico,
gigantesco e perdulário, financiado pelos impostos diretos e
indiretos sobre a renda e o consumo, que agravou mais ainda a
situação dos trabalhadores, que se iludem, acreditando que o que
recebem como benefícios sociais, ou através de políticas públicas
universais (educação, saúde e segurança) é grátis, não sai do
seu bolso, por isso mesmo não lhes cobram eficiência e eficácia.
Esse monstruoso estado social, na contramão dos países que o
inventaram e já o abandonaram (por meio de reformas flexibilizadoras
e privatizações), atingiu o paroxismo nos governos Lula e Dilma.
A
cabeça ingênua dos brasileiros não interroga o porquê não haver
empreiteiras estrangeiras construindo casas ou apartamentos no
Brasil? O porquê construtoras nacionais abdicarem desse ramo do
setor imobiliário para se dedicarem a trabalhar para o governo
fazendo obras? O porquê o transporte aéreo doméstico não estar
aberto às empresas internacionais? O porquê de tão pouca (ou
nenhuma) concorrência nas concessões de linhas de ônibus do
transporte terrestre interestadual e intermunicipal? O porquê de em
um país plano, como o Brasil, sem nenhuma cordilheira como os Andes
ou os Alpes, o transporte ferroviário ter sido praticamente
abandonado, tanto de cargas como de passageiros, quando desde o séc.
XIX Inglaterra e Estados Unidos já estavam integrados por
estradas-de-ferro?
Sobre
a justiça, já comentei tantas vezes a sua falta que desnecessário
é me repetir. Porém, o temor pelos que amo força-me a escrever,
como se a magia das palavras pudesse esconjurar o mal da violência
de uma guerra civil, não declarada, que campeia no país. É notória
a incapacidade punitiva das leis! O que orienta a feitura do Código
Penal e dos Estatutos como o da Criança e do Adolescente (prova
cabal de alienação face à realidade violenta que nos aflige) é o
princípio da “re-socialização”, não o da “punição”!
Socialização,
já escrevi em livro e artigos, é treinamento para viver em
sociedade, cujo início começa na família ao nascer, e se prolonga
pela vida adulta. Socialização é aprender a viver com os outros,
respeitando os direitos e diferenças de cada um, em qualquer
circunstância existencial pela qual o indivíduo passe. Socialização
não é recuperação de bandido, nem adolescente nem adulto!
É
demagogia propagar, como se fosse uma profunda idéia filosófica,
que todos nós somos responsáveis pela violência e a criminalidade,
que todos somos culpados, como fazem irresponsáveis professores
universitários, militantes esquerdistas e religiosos populistas (que
trocam o pastoreio das almas pelos tais trabalhos comunitários e
sociais). O objetivo é fazer as pessoas se sentirem mal e se
envergonharem com o seu sucesso, criando-lhes uma má-consciência.
A
sociedade não é culpada PELA violência, ela é vítima e refém DA
violência! Isso tem de ficar claro. Criminosos são criminosos
porque são criminosos. Têm de ser punidos de acordo com a gravidade
do crime perpetrado, excluídos para sempre ou por longo tempo do
convívio daqueles contra quem atentaram. É desumano para quem
nenhum mal cometeu, a imensa maioria, ter de voltar a conviver
perigosamente na sociedade com homicidas, estupradores, pedófilos e
assaltantes. Para esses, não pode valer à condescendente “todos
merecem uma segunda chance”. Perguntem se eles concederiam segunda
chance para suas vítimas!
Sobre
educação, ano após ano repetimos nossas deficiências. Os
currículos do fundamental e do médio são enormes, e rasos! O ideal
seria focar em conteúdos menores, porém necessários em termos de
aplicabilidade, e aprofundá-los. O tripé desse ensino, inspirado na
educação Metodista inglesa, aplicada nos Estados Unidos, pelos
missionários no séc. XIX é: escrever, ler e contar.
Os
brasileiros têm graves dificuldades com essas habilidades,
enormemente necessárias nesse mundo tecnológico e competitivo. Os
exemplos são mais eloqüentes do que as palavras: a elevada evasão
nos primeiros semestres dos cursos de sistema de informação,
engenharias, matemática e física, porque os alunos se deparam com
disciplinas que exigem cálculo; a cândida confissão de alunos de
mestrado e doutorado de Ciências Sociais de que pouco sabem sobre
números; a assombrosa mudez que ecoa nas salas universitárias
quando se questiona pela intimidade, mínima que seja, com a
literatura nacional (não digo nem internacional) mas com Alencar,
Machado, Rosa, Veríssimo, Amado, Azevedo, Euclides, Raquel, Luft,
Lispector, etc. Não posso deixar de citar, porque é tragicômico, o
que disse uma aluna de mestrado em aula: que as escolas públicas
onde há turmas profissionalizantes e se incentiva a competição
estimula comportamento “segregacionista” contra alunos de outras
escolas públicas! O melhor, segundo ela, é todo mundo patinar na
mesma ruindade.
Quanto
à estética, que os compatriotas ufanisticamente exaltam,
permitam-me um comentário picaresco. O que é que tatu tem a ver com
futebol?! Nem bicho de estimação ele é (deve ter, mas não conheço
ninguém que encontre prazer brincando com tatu; se bem que tem gente
que cria cobra... porém, deformações estéticas são exceções!).
No entanto, parece-me que fizeram campanha publicitária e televisiva
e elegeram o tatu-bola como mascote da Copa de 2014!
Contradizendo
minha opinião sobre a singularidade das deformações estéticas, o
Brasil assumiu um mascote que em nada representa a nacionalidade, e
ainda tem um nome que lembra “fuleiragem”: fuleco!!! (Segundo uns
entendidos, é a mistura de futebol com ecologia... compreenderam?!).
É para morrer de rir... Se não for para chorar diante de tanta
idiotice!!!
Melhor
seria ter pago o direito de licença de marca a Disney e a Abril e
adotado o Zé Carioca e o Nestor, esses sim, um papagaio
(verde-amarelo) e um urubu (mascote da maior torcida brasileira),
personagens dos quadrinhos, há anos identificados com o caráter
nacional, apaixonados pelo futebol, malandros, chegados a namorar, a
uma cachaça e ao samba! Para que símbolos estéticos mais
representativos da alma brasileira?!
Mas,
minha certeza de que o país fracassa e aderna é a sensação de
desânimo de dois grandes professores de ciências sociais dos quais
sou aluno e discípulo (muitas vezes herético!). Próximos dos 80
anos e trabalhando por prazer, ao longo da vida foram perdendo a
esperança e o otimismo com o Brasil, reservadamente (por isso não
declino os nomes), confessam o seu pessimismo com o país.
Eu,
que me aproximo dos 50 anos, quando me dirijo a esses dois expoentes
intelectuais, oralmente ou por escrito, sempre utilizo “professor”!
Acho estranho e desrespeitoso quando alunos mais jovens os chamam
apenas pelo primeiro nome ou sobrenome, sem a reverência do cargo.
Penso que esses rapazes e moças sejam muito modernos e que eu esteja
ficando antiquado e conservador, mas sinto falta de uma ética
pautada pelo respeito aos mais velhos e pela hierarquia devida
aqueles que sabem mais.