TUDO PODERIA SER bastante
diferente. Todavia, as injustiças, as atrocidades, a estupidez, os
atentados à liberdade e outras coisas condenáveis fazem deste mundo
uma espécie de fogueira crepitante, em que se transformam em cinzas
as maiores esperanças e os mais justos anseios.
Acontecem
fatos que servem unicamente para infernizar a vida. As relações se
tornam cada vez mais conflituosas, visto que não se criam as
condições necessárias para alcançar o desarmamento dos espíritos,
para possibilitar uma conciliação geral.
As dissensões são
frequentes. As criaturas se hostilizam, investindo uma contra as
outras, numa fúria canibalesca. A intolerância religiosa cria
sérios problemas, que inviabilizam um relacionamento saudável. Os
grupos étnicos se digladiam. A ecologia é desrespeitada. De uma
maneira geral, os compromissos assumidos não se cumprem. Quase
ninguém pensa em seus deveres. A maioria se preocupa apenas em saber
quais são os seus direitos.
O senso de responsabilidade é
mínimo. Há os que denigrem tão somente por despeito ou inveja. Às
vezes, aquele que acusa parece não se dar conta de que cabe a ele o
ônus da prova. Não impera no mundo uma atmosfera de paz, em razão
da existência de países beligerantes.
Insensíveis e
vorazes, as classes dominantes não se preocupam de defender os seus
privilégios em detrimento dos reais interesses das pessoas humildes,
daquelas economicamente mais fracas, que não têm para quem
apelar.
O autor de Espelho da Realidade, ao comentar o seu
livro, não vacila em observar que ele “fala desta pedra incômoda
que se instalou no sapato da natureza, deste ser parasitário chamado
pessoa humana”. E o faz para mostrar que o homem não é capaz de
agir construtivamente.
Continua presente a pergunta bíblica:
“Caim, que fizeste do teu irmão?”. Na verdade, as disputas não
deixaram de existir. Os desentendimentos continuam gerando situações
as mais graves. E nada indica que algo possa tornar esse quadro
suscetível de modificações.
A pessoa humana foi e continua
sendo vítima de um processo que se mostra irreversível. E toda a
culpa é dela mesma, que, ao invés de procurar recorrer ao diálogo
e à persuasão, como os meios indispensáveis de fórmulas
conciliatórias, complica tudo, ora falsificando a verdade, ora
praticando atos reveladores da mais completa insensatez.
Fonte:
O Piaguí Culturalista (editorial: agosto de 2015)
