27 de outubro de 2008

Política x imprensa


Artigo de autoria do Jornalista Jânio Pinheiro de Holanda

A crise política brasileira não é episódica, é contínua e não foi resolvida pela redemocratização. Ao contrário, foi até agravada porque, a partir de 1985, a distribuição de canais de rádio e tv passou a funcionar de forma ostensiva e regular como moeda de troca para a cooptação do Legislativo pelo Executivo.

Como conseqüência, parte do nosso sistema de comunicação social, e justamente aquela com maior penetração popular, perdeu sua independência e sua capacidade de funcionar soberanamente. Sucedem-se as temporadas de escândalos no Congresso mas o escândalo maior, orgânico, é a sobrevivência da inconstitucionalidade que permite aos congressistas – teoricamente encarregados de fiscalizar a distribuição de concessões – desfrutar do privilégio de serem concessionários de um serviço público. Atentado ao pudor, à isonomia entre os cidadãos e evidência de uma anomalia que põe sob suspeição todo o processo de distribuição de informações.

Ironicamente, foi no mandato de José Sarney, no primeiro governo dito democrático, que o fenômeno do coronelismo eletrônico ganhou dimensão e visibilidade convertendo-se numa das alavancas do processo de concentração da mídia. O paradoxo não é casual, revela uma deterioração que só a sociedade civil, o Judiciário e a imprensa – mas não a mídia – poderão estancar.

Sem pluralismo na geração e na difusão da informação não existe uma verdadeira democracia representativa. E sem um arcabouço democrático confiável, torna-se quase bizantino o debate sobre a qualidade da informação e a objetividade das coberturas jornalísticas.

O atual ciclo de denúncias não chega a ser uma antologia de jornalismo mas é uma preocupante coleção de mazelas jornalísticas. Busca-se a credibilidade mas poucos oferecem transparência, pretende-se a moralização da vida pública mas os bastidores da imprensa continuam imersos na sombra.

Revelações arrasadoras que ninguém até agora ousou contestar, porém envoltas em controvérsias no tocante aos seus reais beneficiários e/ou patrocinadores. É um dos seus pontos fortes - franqueia aos leitores a discussão sobre os bastidores da imprensa - mas é também uma de suas fraquezas - evidencia contradições importantes.