1 de maio de 2009

O Futuro do Capitalismo: reciclagem!

Artigo de autoria de Geraldo Filho - Sociólogo, Bchl e MSc: professor do CMRV/UFPI

O atual reajuste do sistema capitalista, que formalmente começou em outubro de 2008, com a falência do Banco Lehman Brothers, dos Estados Unidos, esconde um problema muito mais grave, que afeta a vida das pessoas numa dimensão que elas sequer imaginam.

Por trás dos solavancos (reajustes) do sistema de mercados livres está em curso um processo sócio-econômico inescapável: não é possível equilibrar a equação crescimento (PIB: Produto Interno Bruto) X desenvolvimento (enriquecimento da população) infinitamente, sem que haja um colapso do sistema, não o de mercados, mas o colapso do sistema de vida sobre a terra. É a economia encontrando-se com a “Hipótese Gaia”, de James Lovelock.

Quando os críticos do capitalismo, marxistas principalmente, condenam o consumismo das pessoas no mercado não enxergam que, se houver uma retração violenta no consumo, o sistema emperra, deixando milhões de trabalhadores, das variadas cadeias produtivas de bens de serviços desempregados, o que geraria um caos incontrolável, resultado do empobrecimento e miséria crescentes por escassez de mercadorias.

Por outro lado, a fé incondicional na expansão permanente da riqueza, o que em tese equilibraria naturalmente produção X consumo, incorre em erro ingênuo ao não considerar uma variável fundamental para essa equação: a “Hipótese Gaia”.

A “Hipótese Gaia”, formulada pelo ambientalista inglês James Lovelock, afirma que a terra é um sistema vivo, como um organismo animal, que reage de acordo com as agressões que colocam em perigo sua existência. É como age o sistema imunológico humano, ao identificar uma infestação microbiana, por exemplo.

Aplicando-se a “Hipótese Gaia” ao cenário projetado por aqueles que crêem na expansão continuada dos mercados, a equação produção X consumo necessitará de ser balanceada.

Sem “Gaia”, a produção deveria crescer para sempre (ad infinitum), de modo a atender a necessidade de consumo de uma população em evolução (estima-se 9,5 bilhões de humanos em 2050), à medida em que ela se integra na escala de milhões ao mercado global (caso da Índia, China e, em breve, África, última fronteira de reserva de consumidores a ser desbravada). O problema, que no caso é uma ilusão, é, que, nesse cenário, as fontes de energia que alimentam o sistema seriam inesgotáveis e, sua exploração, não destruiria e estabilidade ecossistêmica de “Gaia”.

Com “Gaia”, a ilusão é obrigatoriamente desfeita, ficando claro que não é possível sustentar o sistema econômico em que a produção cresça indefinidamente, para satisfazer o consumo sempre maior em tamanho (absoluto) e em diversidade de bens e serviços (relativo). Isto, não por defeito do sistema em si, mas por causa de “Gaia”. Não se arrasa as fontes de energia originárias da natureza impunemente. A manipulação das fontes de água doce, do mar, das terras agricultáveis e de pecuária, dos micro- ecossistemas de onde se extraem minérios, etc. em escala sem precedentes, deve, inexoravelmente, sob pena de colapso do planeta, baixar os valores dos termos da equação produção X consumo e, a longo prazo, modificar a sua qualidade.

Para conseguir esses dois objetivos, e assim salvar não só o capitalismo mas o próprio planeta, desenham-se dois cenários possíveis, que se complementam.

No primeiro, para baixar os termos da equação produção X consumo, será inevitável a drástica redução do crescimento populacional (portanto, Malthus estava certo por motivos errados, o problema não era a escassez de comida para tanta gente, mas o excesso). Como não se deseja que “Gaia” cuide disso, desencadeando epidemias, cataclismas e guerras por comida e água doce, é mais sábio e urgente estancar a multiplicação de gente, através de políticas agressivas de controle demográfico (divulgação massiva de métodos anticoncepcionais, por exemplo, inclusive a legalização do aborto).

No segundo, que deve ser implementado com o primeiro, como o sistema de mercados só funciona com pessoas trabalhando e tendo salários para prover suas necessidades (consumo), mas, por outro lado, não pode ter a garantia de fontes de energia inesgotáveis (particularmente as não renováveis, como o petróleo), que não poluam ou destruam o ambiente, deve se modificar a qualidade dos termos da equação. E isto significará mudar a base das cadeias produtivas, aumentando vertiginosamente o aproveitamento das matérias primas já processadas, isto é, já utilizadas, criando-se tecnologias para sua reutilização nas mesmas mercadorias ou em outras que possam se beneficiar dos mesmos materiais.

Deve ser a era do consumo qualitativo, em que a composição das mercadorias será constituída de materiais cuja organização e reorganização (reciclagem) obedecerá a uma pauta diversificada de consumo, orientada não pela quantidade, mas pela sofisticação da qualidade, reduzindo, portanto, a degradação acelerada dos ecossistemas terrestres. “Gaia” agradece!