Talvez bastasse dizer
somente “a venda da casa” que todo mundo saberia sobre qual casa
se estaria falando. Trata-se aqui da casa do governador Marconi
Perillo de Goiás, agora o epicentro de sua relação com o
contraventor Carlinhos Cachoeira. Aliás, “as casas” vêm
ocupando lugar no noticiário e derrubando autoridades. Palocci já
foi vítima da uma de diversão em Brasília e de outra milionária
em São Paulo, cujo proprietário era um servente de pedreiro
desempregado.
Assim como falavam de
que se sabe como começam, mas não como terminam as Comissões
Parlamentares de Inquérito da Câmara dos Deputados e do Senado, as
relações promíscuas de autoridades começam sempre pelo
desconhecimento absoluto dos citados, passam lembranças de
encontros, almoços e passeios casuais e terminam com a comprovação
de recebimento de presentes, viagens em aviões emprestados, compras
e muito, mas muito, dinheiro envolvido para ambos os lados. Depois
vêm as gravações e os desmentidos.
Com o governador de
Goiás a história se repete. Mas o senhor aparece numa foto com ele;
mas político abraça todo mundo. Apareceu uma gravação do senhor
com ele. O político atende ao telefonema de qualquer um. É só
qualquer um ligar... Mas o senhor apareceu numa fita de vídeo
almoçando com ele. Foi um almoço patrocinado por um assessor, um
amigo empresário... E essas denúncias sempre terminam com a
alegação de que as frases são descontextualizadas. Não há uma
contra-argumentação na imprensa de que as frases sejam completas e
dispensem os tais contextos.
Como regra todas as
negociações comerciais ocorrem por meio de contrato de compra e
venda. Parece que casa de governador se vende de forma diferente.
Agora, batem cabeça porque quem vendeu o fez por um valor, e quem
comprou pagou outro bem mais alto. Seria tão simples se o governador
apresentasse o contrato, pois não se imagina que tenha vendido uma
casa pela ínfima quantia de milhões apenas na palavra, sem nenhum
documento.
Tudo isso ocorre por
culpa da passividade da sociedade. A sociedade brasileira passa por
um momento de absoluta acomodação, com manifestação apenas
virtual, e até essa sem muita ênfase. Já os representantes do
Congresso na CPI nem sequer são capazes de apontar essas
inconsistências absurdas. Os sites do governo e da Assembleia
Legislativa de Goiás deveriam ter sido emperrados de mensagens,
fossem favoráveis ou contrárias. Apesar da inércia social, os
integrantes da CPI não deveriam menosprezar a inteligência do povo
e deveriam exigir apenas a apresentação do documento de compra e
venda.
O andar de cima ainda
faz o que bem entende neste país e, apesar de já ser alcançado
pela Polícia Federal, continua intocável pelo Ministério Público
e pelas várias Justiças brasileiras. Os casos de corrupção que
derrubaram vários ministros recentemente comprovam fartamente essa
impunidade absoluta.
Pedro Cardoso da Costa
– Interlagos/SP
Bacharel em Direito