Estamos em pleno ano
eleitoral, eu gostaria de aproveitar este espaço para falar de um
político que foi uma referência para o nosso país. Trata-se do
mineiro Milton Soares Campos (1900-1972), advogado, deputado
estadual, deputado federal, governador de Minas Gerais, senador,
Ministro da Justiça e que recusou por diversas vezes nomeação para
ser embaixador e membro do Supremo Tribunal Federal. Ocupou a cadeira
de número 29 da Academia Mineira de Letras, adotando sempre em seus
escritos natureza literária, política e social, estilo invulgar,
inclusive pelos dotes de sobriedade e equilíbrio.
Se nunca teve ambição,
havia nele isso sim decidida e imperiosa vocação para a política,
para os estudos políticos, para as causas, as pelejas, as
realizações, os ideais políticos, em suma, para a carreira
política. Essa vocação, natural na sua alma, era tanto mais
autêntica, quanto sem limite era a sua capacidade para o exercício
dessa carreira. Não cultivava ilusões sobre a natureza humana e
sobre as fórmulas políticas, embora fundamentalmente avesso a
qualquer gênero de poder que não resultasse da escolha popular.
Só quem se aproximava
dele podia ter a certeza dos homens que se reuniam nele: o político,
de natureza liberal, procurou sempre com paciência e lucidez
facilitar a abertura de caminhos para o aperfeiçoamento das
instituições democráticas; o intelectual, escritor sem livros mas
dono de estilo modulado, recomendando-se pela elegância e precisão,
de que deixou provas no jornalismo e em discursos; e o ser,
infinitamente provido da capacidade de compreender e perdoar, irônico
sem malignidade, ágil no comentário imprevisto e iluminado de uma
figura ou de uma situação.
O ceticismo filosófico
a respeito da natureza humana dava matiz especial à sua bondade,
retirando-lhe a justificativa emocional que geralmente se encontram
nos bons. “Sua delicadeza de sentimentos excluía a ênfase do bem
e ele a praticava como quem risca um fósforo para acender um
cigarro, naturalmente. Mas sabendo que o cigarro não agradece e que
o fósforo foi feito para ser queimado sem glória” (Carlos
Drummond de Andrade). Aprendi a admirá-lo lendo referências após
sua morte, feitas por destacados intelectuais brasileiros, como
Carlos Drummond de Andrade, ex-governador de Minas Gerais Rondon
Pacheco, ex-senador Gustavo Campanema, jornalista Eugênio Gudin,
ex-senador Magalhães Pinto, ex-ministro Ney Braga, jornalista
Barbosa Lima Sobrinho, jornalista Tristão de Athayde, jornalista
piauiense Carlos Castello Branco, ex-governador de Minas (piauiense)
Francelino Pereira, e tantos outros notáveis.
Carlos Drummond de
Andrade, na crônica que escreveu sobre Milton Campos, assim
terminou: “Ele foi o homem que a gente gostaria de ser”.
Arlindo Leão
(In: O Piaguí, n.º
56, junho de 2012, p. 06)