10 de junho de 2012

Milton Campos: “Ele foi o homem que a gente gostaria de ser”


Estamos em pleno ano eleitoral, eu gostaria de aproveitar este espaço para falar de um político que foi uma referência para o nosso país. Trata-se do mineiro Milton Soares Campos (1900-1972), advogado, deputado estadual, deputado federal, governador de Minas Gerais, senador, Ministro da Justiça e que recusou por diversas vezes nomeação para ser embaixador e membro do Supremo Tribunal Federal. Ocupou a cadeira de número 29 da Academia Mineira de Letras, adotando sempre em seus escritos natureza literária, política e social, estilo invulgar, inclusive pelos dotes de sobriedade e equilíbrio.

Se nunca teve ambição, havia nele isso sim decidida e imperiosa vocação para a política, para os estudos políticos, para as causas, as pelejas, as realizações, os ideais políticos, em suma, para a carreira política. Essa vocação, natural na sua alma, era tanto mais autêntica, quanto sem limite era a sua capacidade para o exercício dessa carreira. Não cultivava ilusões sobre a natureza humana e sobre as fórmulas políticas, embora fundamentalmente avesso a qualquer gênero de poder que não resultasse da escolha popular.

Só quem se aproximava dele podia ter a certeza dos homens que se reuniam nele: o político, de natureza liberal, procurou sempre com paciência e lucidez facilitar a abertura de caminhos para o aperfeiçoamento das instituições democráticas; o intelectual, escritor sem livros mas dono de estilo modulado, recomendando-se pela elegância e precisão, de que deixou provas no jornalismo e em discursos; e o ser, infinitamente provido da capacidade de compreender e perdoar, irônico sem malignidade, ágil no comentário imprevisto e iluminado de uma figura ou de uma situação.

O ceticismo filosófico a respeito da natureza humana dava matiz especial à sua bondade, retirando-lhe a justificativa emocional que geralmente se encontram nos bons. “Sua delicadeza de sentimentos excluía a ênfase do bem e ele a praticava como quem risca um fósforo para acender um cigarro, naturalmente. Mas sabendo que o cigarro não agradece e que o fósforo foi feito para ser queimado sem glória” (Carlos Drummond de Andrade). Aprendi a admirá-lo lendo referências após sua morte, feitas por destacados intelectuais brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade, ex-governador de Minas Gerais Rondon Pacheco, ex-senador Gustavo Campanema, jornalista Eugênio Gudin, ex-senador Magalhães Pinto, ex-ministro Ney Braga, jornalista Barbosa Lima Sobrinho, jornalista Tristão de Athayde, jornalista piauiense Carlos Castello Branco, ex-governador de Minas (piauiense) Francelino Pereira, e tantos outros notáveis.

Carlos Drummond de Andrade, na crônica que escreveu sobre Milton Campos, assim terminou: “Ele foi o homem que a gente gostaria de ser”.

Arlindo Leão
(In: O Piaguí, n.º 56, junho de 2012, p. 06)