26 de janeiro de 2008

Crônica dos micos de final de ano!

Para começar 2008, no Acesso343, optarei por um estilo diferente daquele que normalmente é comum ao meu trabalho de cientista e analista das sociedades. Com o perdão dos leitores, traçarei algumas linhas que se pretendem crônicas do cotidiano, sem a pretensão de ombrear grandes mestres desta arte mas, sobretudo, com o objetivo de rir de nós mesmos e dos micos que nos envolvem no dia a dia.

O rir de nossas próprias lambanças, principalmente quando elas não chegam a prejudicar ninguém, é uma boa terapia de auto-avaliação sobre nossas reações diante de situações que, dependendo de como as vivenciemos, podem se tornar desbragadamente cômicas ou trágicas, ou ainda, tragicômicas. Assim, quem consegue exercitar esta prática do bom viver segue pela vida mais alegre e humanitário do que aqueles que só se avaliam negativamente, comumente religiosos demais, sérios demais, carrancudos demais, infelizes demais!

Quando chega o final de ano multiplicam-se convites para amigo oculto. No trabalho, na turma de amigos, na família, na igreja... nas várias esferas da vida social nas quais você tem algum laço afetivo. Para mim é uma tortura! Não que desgoste das brincadeiras e da farra que acompanham as confraternizações, que na verdade são um excelente observatório de micos, mas por causa da pré-condição para a participação na folia: o presente do amigo oculto!

Nós, homens, não fomos treinados para a escolha de presentes, pelo menos a maioria, pois compartilho essa característica com muitos dos meus amigos, principalmente quando o amigo oculto é uma mulher! Aí a coisa pega de vez.

Estava convencido, no final de 2007, a não mais passar por estas situações de dúvida e chateação, afinal, por essa época, o comércio fica lotado e, no meio daquela confusão, você lá atônito, sem saber o que escolher! Porém, há aqueles convites que te pegam em momento de hesitação e você vacila no não... acaba aceitando! Em um destes eu caí e lá me vi de novo no turbilhão da dúvida: principalmente por que o amigo oculto era uma mulher.

Para mim a tortura foi dobrada, não só pelas dificuldades já relatadas, mas porque se somou uma outra: em uma de minhas auto-análises concluí que não devia mais presentear ninguém com livros e CDs, pois haviam ficados óbvios demais. Amigo oculto do Geraldo Filho = presente livro (fácil para mim, pois os livros são a praia do intelectual universitário real) ou = CDs (também fácil, pois tenho razoável cultura musical).

Procurando dirimir minhas dúvidas encontrei na Banca do Louro, na Praça da Matriz de Nossa Senhora das Graças, centro de Parnaíba-PI, meu amigo Flávio Lopes e expus meu problema. Com o apoio do amigo, partimos resolutos para a loja de variedades Rosa Morena, situada ao lado da Caixa Econômica Federal.

De imediato, bati os olhos em uma bolsa e meu amigo aquiesceu como um bom presente. Já disposto a entregá-la para pagamento e embrulho Flávio me chamou a atenção para um estojo em couro, de cor negra, supostamente um estojo de maquiagem feminina. Abrimos e conferimos o conteúdo. Não sendo os homens muito atentos aos detalhes e encantados com a sofisticação do estojo, confundimos tudo!

Alegre, imediatamente troquei a bolsa pelo estojo e preparei-me para pagar, foi quando minha terrível audição me socorreu, pois captei a pergunta da moça que estava no caixa para a vendedora: “Qual o preço desse estojo de barbear?” Tomei um susto e perguntei: “Como, isto é um estojo de barba?!” As moças em conjunto: “É, sim!” E já rindo e compreendendo o mico abriram o estojo e me mostraram o conteúdo.

Vejam como a ansiedade e a alegria por termos achado um presente interessante distorceu tudo e nos levou à confusão: o que achávamos ser batons, lápis, pós e que tais do toucador feminino na verdade eram cremes, loções e um pincel de barbear, todos arranjados em recipientes cilíndricos pequenos e bem trabalhados. Um cortador de unhas tamanho grande... bem, na hora em que o vimos pela primeira vez não imaginamos que ele não seria muito adequado para a delicadeza feminina!

Artigo de autoria de Geraldo Filho (Sociólogo, Bchl e MSc: professor do CMRV/UFPI, Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação)