30 de agosto de 2010

Piauí participa de oficina sobre Justiça Climática

O encontro reuniu entidades do nordeste para discutir meio ambiente e sustentabilidade.

As entidades piauienses Centro de Formação Mandacaru e Centro Regional de Assessoria e Capacitação (CERAC), que atuam na região norte do estado, participaram nos dias 25, 26 e 27 da Oficina de Justiça Climática no Nordeste que aconteceu na comunidade Prainha do Canto Verde, município de Beberibe, região litorânea do Ceará que fica a 120 km de Fortaleza. O encontro reuniu entidades que trabalham práticas ecologicamente sustentável de 06 estados do nordeste que atuam nos biomas Caatinga, Cerrados e Zona Costeira.

O evento teve como objetivo a afirmação dos territórios das populações tradicionais como estratégia para o enfrentamento à crise climática. Durante os três dias os representantes dessas organizações participaram de palestras sobre questões ambientais no Brasil. O evento proporcionou também a criação da Carta da Justiça Climática.

Durante os três dias de encontro foram apontados alguns dos grandes desafios enfrentados na região nordeste no que diz respeito ao meio ambiente. Entre os mais graves estão o desmatamento desenfreado de matas nativas, a invasão da monocultura como a soja e o plantio de eucaliptos e a posse da terra que continua com fortes conflitos, por um lado povos indígenas, comunidades tradicionais, MST e por outro lado o agronegócio e os grandes empreendimentos.

Com o avanço desses grandes empreendimentos, comunidades tradicionais inteiras estão sendo obrigadas a saírem de suas casas, de sua terra deixando para trás sua história, sua cultura e suas raízes com indenizações que chegam até seis reais. Estas foram algumas das situações relatadas pelas Organizações participantes.

Para a professora Raquel Rigotto da Universidade Federal do Ceará, que proferiu uma das palestras, é impossível desenvolvimento e sustentabilidade ambiental andarem juntos. Segundo Raquel onde há desenvolvimento, há uma série de impactos ambientais, muitos deles irreversíveis. De acordo com a professora "na busca das soluções, nem sempre os cientistas são "os donos da verdade". Este é um dos paradigmas a ser revisto". Raquel Rigotto falou também que o movimento social organizado precisa se aprofundar mais no tema criando assim mais forças na luta que continua.

O Sociólogo e pesquisador da FASE (Uma Organização não Governamental do Espírito Santo), Marcelo Calazans, ministrou uma palestra sobre Aquecimento Global. Para o Sociólogo os acordos feitos nas grandes Conferências para redução de gazes no Planeta são medíocres, "Como é possível uma Empresa poluir na Europa ou Estados Unidos e jogar a responsabilidade para os Países pobres reduzirem a emissão de gás sobre o pretexto de financiamento de projetos. Eles fazem isso e ainda permanecem no direito de continuarem poluindo. Disse Marcelo Calazans.

E continua, "eles poluíram lá? pois que façam a redução lá mesmo mudando seus hábitos". Segundo o Sociólogo na Europa a média de carros por família chega 04. O palestrante disse também que é impossível reduzir o aquecimento global se a sociedade não mudar drasticamente seus hábitos. E afirma. " Muitas vezes conquistar liberdade não é conquistar algo e sim abrir mão de algo". Para Marcelo o recomendável para as Organizações (grandes ou pequenas), que lutam em devesa do Meio Ambiente é realizarem ações que proíbam as grandes Empresas continuem poluindo. Mas também afirma "As grandes Corporações não são as maiores poluidoras. A maior provocadora de poluição do planeta é a Indústria Cultural que tem o puder de modelar a sociedade. Enfrentar a poluição cultural é a maior arma no momento".

Mas a Oficina Climática não serviu apenas para apontar os desafios, também teve o momento de apontar soluções para os grandes desafios, algumas soluções já são identificadas como práticas, por exemplo, as várias ações desenvolvidas pela ASA - Articulação do Semiárido Brasileiro. Algumas ainda precisam ser estudadas e colocadas em prática como a garantia dos direitos humanos nos territórios da zona costeira e assegurar o modo de existir das comunidades tradicionais, potencializar a criação de áreas de conservação entre outras.

No cerrado foi destacado a afirmação dos conhecimentos tradicionais, fortalecimento das redes de articulação local e regional para o enfrentamento aos problemas ambientais e fortalecimento da agricultura familiar. E na caatinga a valorização da cultura sertaneja, promoção da agropecuária familiar de base agroecológica, reecatingamento, (ao invés de reflorestamento), da região, acesso a água e a terra, cultivos adaptados ao semiárido entre outras.

Por Paula Andréas