19 de junho de 2011

Os transtornos e os brasileiros

Geraldo Filho
Artigo de autoria de Geraldo Filho - Sociólogo, Bchl e MSc: professor do CMRV/UFPI

Mania é um transtorno mental que tem como uma de suas características a perda do senso crítico, o que faz com que seu portador tenha dificuldades para decodificar corretamente o mundo ao seu redor.

Comparando o Brasil com um portador de mania, concluo que as atitudes dos brasileiros em relação à sociedade sejam bem semelhantes ao transtorno descrito.

Mesmo que as instituições sociais estejam se desintegrando a olhos vistos, como resultado da ineficiência e ineficácia administrativa somada à corrupção, que contaminou, a partir das instituições públicas (executivo, legislativo e judiciário), todas as demais, os brasileiros são incapazes de compreender esse processo de decadência.

Ironicamente, ou melhor, tragicomicamente, ao tempo em que as instituições se desestruturam, o país goza de uma sensação de prosperidade, estimulada por uma falsa percepção da realidade, decorrente de milhões de mentes incultas e ingênuas que se espalham por esse imenso território.

Eis a justificativa para minha comparação com o transtorno mental aludido, e com a perda do senso crítico que lhe corresponde: as emoções são os estímulos básicos que atingem nosso corpo, cuja racionalização, pela mente, chamam-se sentimentos. Assim, um portador de mania passa por uma experiência que produz emoções negativas (tristeza, raiva); no entanto, a racionalização (conceituação) dos sentimentos gerados não vai na mesma direção.

É melhor ilustrar estes argumentos. Diferentemente do que a maioria imagina, o país não vai bem. A sensação de melhoria é consequência da recuperação de décadas de miséria, causada pela alta concentração de renda, que tem sua origem na libertação dos escravos. O que para nós é bom hoje, para outros povos já era há bastante tempo.

Quanto a educação, a saúde e a segurança não me repetirei e nem cansarei os leitores com dados estatísticos. Apenas direi que o analfabetismo funcional é endêmico; os criminosos mandam nas ruas protegidos pelos Direitos Humanos e pelo famigerado Estatuto do Menor e do Adolescente; e que as pessoas morrem nos hospitais por mau atendimento ou falta de leitos.

Como os brasileiros agem diante disso: não fazem nada! São incapazes de compreender que para serem realmente felizes precisam de educação, saúde e segurança.

Aliás, fazem alguma coisa, envolvem-se em uma campanha nacional para descriminalizar o uso da maconha. E o pior, o Supremo Tribunal Federal (sempre o Supremo!) ainda decide que, em nome da liberdade de expressão, campanha pela descriminalização não é campanha para incentivar o uso. Pergunto eu, pobre ignorante que nada sei, qual o limite entre uma e outra no contexto de uma sociedade ignorante?! Pergunto mais, qual é mesmo a relevância dessa campanha diante da calamidade de jovens analfabetos funcionais, que terminam o fundamental com pouca proficiência em português (29% dos jovens são aptos) e matemática (apenas 11%)?!

Talvez esse envolvimento com o irrelevante, esquecendo-se o essencial (foco), seja sintoma de outro transtorno: o TDHA (transtorno de déficit de hiperatividade e atenção), cuja sintomatologia apresenta como uma de suas características a dificuldade de se concentrar naquilo que é relevante e interessa, tornando o seu portador dispersivo.

Mas um acontecimento recente me deixou estarrecido e culminou meu diagnóstico. A libertação do terrorista italiano Cesare Battisti, concedido pelo STF (sempre o Supremo!), condenado legal e legitimamente pelos tribunais da Itália pelo assassinato de quatro pessoas a prisão perpétua. O mais grave, havia um tratado de extradição de criminosos entre os dois países que o Brasil rasgou, afrontando as leis internacionais e a sociedade italiana.

Pobres italianos, tinham a esperança de que o Brasil cumprisse a lei. Eles deveriam saber que as leis aqui são para punir os cidadãos de bem e proteger os bandidos.

Este é um país que não precisa de educação, saúde e segurança, mas prioritariamente e urgentemente de psiquiatras, neurocientistas e psicanalistas: é o Brasilcômio ou  Brasil-hospício.