Cada profissão tem seu
pilar de sustentação. O de uma equipe de desportistas competidores
é vencer. Já individualmente o de cada atleta é buscar ser o
melhor, o Neymar, o Messi, o Federer. Mas o exercício de cada
profissão requer permanente aperfeiçoamento técnico e ético.
No jornalismo, o ideal
de uma revista é ser a mais vendida, o jornal mais lido do seu país,
quando não se consegue voos mais altos. No campo ético da profissão
de jornalismo ou de informação a principal virtude difundida é a
imparcialidade. Uma cobertura sem lado, apenas do lado da verdade. Um
engodo, tanto para si quando para todos. Jornalismo é feito por
gente, e pessoas têm suas preferências.
Tudo no mundo tem um
lado e o do jornalismo deveria ser explícito, sem subterfúgios e
bem definido. Afinal, os valores são criados e sustentados pela
sociedade. Num assalto, de um lado tem uma pessoa que entregou o que
ganhou justamente para preservar a vida; do outro uma pessoa querendo
o objeto ou a vida. Na cobertura de um assalto, fica muito claro de
que lado está a imprensa. O fortalecimento das organizações
criminosas começa a turvar a vista da imprensa. Hoje, amaciam
primeiro ao colocar a culpa no sistema, na sociedade, para só depois
responsabilizarem os delinquentes.
Nem o tempo escapa de
ter um lado. Os inovadores são chamados de progressistas, aqueles
que vão se adaptando e incorporando naturalmente os denominados
avanços sociais e tecnológicos. São as pessoas do seu tempo no
vestir-se, na linguagem, no corte do cabelo. Os conservadores são
retrógrados, não se adaptam fácil ao modernismo. O erro vem no
entendimento do conceito. Os “progressistas” saem de uma partida
de futebol quebrando tudo, nem museus preservam, por ser coisa de
“conservador”. No fim de semana não deixam ninguém ouvir nada
com suas máquinas do barulho. Os conservadores se tolhem, afinal por
definição conceitual são seres inferiores.
No jornalismo, ser
progressista é não se posicionar sobre nenhum tema, nenhum
acontecimento. Seria a decantada imparcialidade. Definitivamente, em
determinados assuntos a imparcialidade chega a ser perversa, um mal
por si. A sociedade segue seus formadores de opinião nesse vazio de
ideias e de valores.
Nessa linha de
raciocínio, a cobertura do mensalão foi o exemplo mais recente de
falta de norte da imprensa nacional. Até o início do julgamento o
que a imprensa brasileira mais cobrava era uma justiça que
alcançasse a todos. Pura fachada para reafirmar sua posição de que
justiça deveria mesmo continuar alcançando apenas os de sempre, os
pobres, mais atingidos nas suas espécies negros e prostitutas.
Começaram por misturar
justiça e política. Não seria o momento ideal para iniciar o
julgamento, como se o calendário do Judiciário tivesse que seguir
cartilha de políticos, seja para que lado fosse.
Ao perceberem que
haveria condenação, escancarou-se a quem a imprensa efetivamente
defendia, liderada pelo jornal Folha de S.Paulo e seu jornalista
Janio de Freitas. Não que estivessem errados em ter uma preferência,
equivocada foi a opção. Afinal, o Brasil tem que defender uma
justiça para punir atos delituosos, independente dos agentes, e
essa, até então, era a posição decantada por todo o jornalismo.
Mas a imprensa nacional
precisa adotar posicionamentos claros sobre determinados assuntos e
acontecimentos. O tanto faz não se aplica ao voto obrigatório, ao
mandato vitalício de dirigentes das entidades esportivas, ao
escandaloso número de cargos comissionados. Também tem que haver
clareza quanto à péssima qualidade do ensino, sobre o
enriquecimento meteórico de políticos, sem nenhuma interferência
ou questionamento dos órgãos de fiscalização. É o caso do mais
novo milionário em 4 anos, o futuro presidente da Câmara dos
Deputados, cuja moral administrativa permitiu que o dinheiro de suas
emendas fosse parar no bolso de um de seus assessores.
Teria muito mais
citações sobre circunstâncias que o jornalismo deveria tomar
partido. Mas a imprensa age como o brasileiro comum, que faria tudo
no lugar do outro; do outro... Faria isso ou aquilo se fosse
jornalista, se fosse político, se fosse policial, se fosse
presidente... Se não fosse um jornalismo tão imparcial, o povo
talvez não se... perdesse tanto.
Pedro Cardoso da Costa
– Interlagos/SP
Bacharel em Direito