Analistas das manifestações devem
estar muito tristes pelos resultados obtidos até aqui. Com críticas
genéricas chamavam a todos de vândalos. Os próprios manifestantes
mostraram que os baderneiros nada tinham a ver com o Movimento,
embora seja simplório achar que todos os participantes das
depredações sejam profissionais. A maioria é formada de pessoas
comuns atiçadas pela oportunidade de certa vingança aos maus-tratos
sofridos pelas autoridades.
Mas o questionamento da falta de foco
não serve mais. O movimento conseguiu reduzir o preço das
passagens, até em cidades que não tinham aumentado. Um deputado
condenado há três anos foi para a cadeia, o projeto da “cura-gay”
foi arquivado, uma proposta para tornar o voto aberto no Congresso já
foi aprovado em Comissões, desistiram de aumentar pedágio em São
Paulo e até um helicóptero foi vendido indevidamente, já que
deveria ser repassado para a Polícia Militar.
Mesmo de forma açodada, a presidenta
propôs a realização de um plebiscito sobre a reforma política.
Ainda que não seja de sua competência, vale apenas pela iniciativa,
já que os pontos apresentados são de interesse exclusivo dela ou do
Partido dos Trabalhadores.
Qualquer proposta séria de reforma
política, seja por qualquer meio, tem que trazer em primeiro lugar a
extinção do voto obrigatório. É normal a estratégia matreira das
nossas autoridades em não tocar nesse assunto. O silêncio da
imprensa, da Ordem dos Advogados do Brasil, da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil, dos sindicatos e das instituições em geral é
absurdamente incompreensível. O Brasil será o último país a
acabar com a obrigatoriedade do voto, como foi com a Escravidão.
Neste momento se faz necessário uma
definição de uma tática. Primeiro, especificar alguns pontos e
trazer o povo para a rua para conquistá-los. Essa pauta precisa ter
especificações de preferências e prazos. Algumas de caráter
geral. Por exemplo, acabar com os recessos da Justiça e com
julgamentos que ultrapassam décadas, é inconcebível que o Poder
Judiciário seja paralisado nos meses de janeiro e julho, uma vez que
todos os magistrados têm férias regulares. Extinguir as
aposentadorias privilegiadas de parlamentares e todas as mordomias
que consomem milhões dos brasileiros, inclusive os voos dos aviões
da FAB para cima e para abaixo com chefe de Poder até para
casamentos e aniversários das filhinhas dos seus colegas.
No entanto, o ganho maior da população
foi a percepção de que as autoridades são alcançáveis pelo povo.
Com alguns exageros, quando querem mudanças municipais ocupam as
câmaras de vereadores; se estaduais, as assembleias legislativas são
tomadas e batem às portas da Câmara dos Deputados e do Palácio do
Planalto quando as reivindicações são de âmbito federal. O povo
provou e aprovou sua força.
Os passeios em aviões da FAB pelos
presidentes da Câmara e do Senado, do ministro Garibaldi Alves e até
de Joaquim Barbosa provaram que as autoridades viciadas em mordomias
vão continuar testando se foi um lampejo de movimento ou se foi pra
valer. Esses aviões deveriam ser para missões muito importantes e
raras, não como transporte de casa para o trabalho.
Já a grande manifestação deve ser
planejada para o próximo Sete de Setembro. Será o “Dia D” para
a proclamação de uma nova Independência, talvez mais efetiva do
que a primeira.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP
Bacharel em Direito