24 de maio de 2008

O machão e a amazona!

Artigo de autoria de Geraldo Filho (Sociólogo, Bchl e MSc: professor do CMRV/UFPI, Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação)

A sexualidade feminina é um mistério para a maioria dos homens! Ou porque foram treinados secularmente, nas várias sociedades, para não se importarem com o prazer feminino (orgasmo); ou porque durante sua formação intelectual pouco se interessam por conhecerem a sexualidade da mulher.

O resultado desse desconhecimento acarreta uma série de dificuldades para o relacionamento entre homens e mulheres. Uma delas, entre tantas outras, é conseqüência da Revolução Sexual feminina que começou nos anos 50, do séc. XX, quando as mulheres definitivamente passaram a competir no mercado de trabalho e tornaram-se donas dos seus corpos e do seu prazer.

De lá para cá, a figura da “mulher Amélia”, que sofre sem fazer qualquer exigência e por isso é a mulher de verdade, foi perdendo espaço para uma mulher independente, como qualquer indivíduo portador de racionalidade e, que, por meio da qual se afirma no mundo, tanto profissional como sexualmente.

Para os homens, esse movimento feito pelas mulheres foi estarrecedor. Viram-se acuados nos espaços outrora dominados por eles, o trabalho e a cama. Mas, se no trabalho a reação masculina ao avanço feminino pode ser identificada facilmente, como piadas sobre a inteligência ou a capacidade da mulher; dificuldades impostas para contratação por causa da maternidade, real ou potencial; remuneração desigual para cargos iguais, etc... na cama, como conseqüência da delicadeza e melindre que envolve a circunstância, a reação masculina é mais difícil de observar.

Os homens são reticentes ao comentarem sobre os desejos ou fantasias das mulheres, pois muitas vezes eles ficam intimidados quando uma mulher mais liberada e afirmativa sexualmente toma a iniciativa na abordagem para o namoro, ou para dar início a uma relação sexual, principalmente quando esta tem como estímulo uma fantasia erótica. Há muitos casos relatados de meu conhecimento, detectados em terapias ou indiretamente em conversas informais, que revelam como muitos homens reagem mal a essas situações.

Certo dia, um amigo me ligou para marcar uma bate papo, que segundo ele só poderia ser regado por algumas doses. Num final de tarde de um sábado nos encontramos, depois dos cumprimentos e amenidades, ao tempo em que a bebida fazia efeito, meu amigo abordou o motivo que o levou a propor aquele encontro. Segundo o seu relato, ele estava passando por um momento muito difícil no seu casamento, pois nos últimos tempos começara a estranhar o comportamento da esposa na cama.

A essa altura, me armei de toda cautela, pois a princípio farejei um problema bem mais sério, que poderia chegar à traição e fim de casamento. Com todo cuidado, até por conhecer a mulher do amigo, indaguei sobre o porquê do estranhamento, foi quando a conversa tomou outro rumo, que confesso, por pouco não chegou para mim à comédia.

De modo entristecido, quase sem as palavras saírem, meu amigo narrou que na última noite de amor com a mulher ela lhe pediu algo inusitado, queria se sentir uma amazona sobre um garanhão, para tanto ainda lhe daria umas palmadinhas nas coxas e ordenaria alguns comandos, como se fosse a condutora de um corcel. Pronto, o mundo desabou!!! Imediatamente o tesão desapareceu e ele a questionou: onde foi que você aprendeu isso, isso é coisa de puta, de mulher de programa, etc.

Controlando minha verve cômica, com muito jeito, comecei a explicar sobre fantasias eróticas femininas, que para algumas mulheres isso era comum, pois apimentavam a relação e, que, daquela situação que havia lhe trazido tanta chateação e angústia ele poderia iniciar uma fase amorosa nova com a mulher, pois ela, ao convidá-lo para uma fantasia erótica sinalizou que estava aberta para novas experiências sexuais com ele, o que revelava sua confiança total nele como parceiro e, portanto, ele deveria se sentir elogiado e lisonjeado, não passado para trás. Assim, com uma breve terapia sócio-antropológica na mesa de bar, consertei mais um casamento.