Os Estados nordestinos
uniram-se nesse ano de 2012 para comemorar o centenário de Luiz
Gonzaga o “Rei do Baião”. Homenagens justas ao grande artista
pernambucano que revelou ao Brasil que o Nordeste não era Norte, que
tínhamos uma cultura, uma tradição, uma identidade própria.
Mas, além de cantador,
forrozeiro, animador de xote e de xaxado, Luiz Gonzaga utilizou a sua
música para denunciar as injustiças, a fome, a miséria e a seca
que assolavam o Nordeste, e foi por mais de meio século o nosso
parlamentar mais atuante sem mandato e sem partido. As letras de suas
músicas e de seus parceiros sobre a seca como Asa Branca, Triste
Partida, Acauã, Vozes da Seca eram de um discurso direto, de
entendimento fácil, mesmo poéticas foram mais verdadeiras que todas
as falas já pronunciadas pelos “Homê pur nóis escuídos para as
rédias do pudê” no Congresso Nacional, Assembleias Legislativas
ou Câmaras Municipais sobre o tema.
Por capricho do
destino, o ano de seu centenário, 2012, é também, um ano de uma
terrível seca que oportuniza novos discursos, novos atores com
projetos faraônicos que sempre entram em cena com a volta desse
fenômeno cíclico que é a seca no Nordeste. Em 1953 Luiz Gonzaga e
Zé Dantas já apresentavam a solução:
“Dê serviço ao
nosso povo, encha os rios de barrage
Dê comida a preço
bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da
esmola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os
juru sem gastar nossa corage”
Por
que então soluções simples como estas não foram e não são
adotadas? A resposta é clara: Muitos políticos necessitam da
miséria, da fome e da seca para manterem-se no poder. Seus discursos
mais parecem cantos de aves de agouro: “Na tristeza da seca, só se
ouve Acauã”.
A seca no Nordeste é
um assunto por séculos lamentada, denunciada, comentada por agentes
políticos, páracos, pastores, bispos, imprensa... Que a cada novo
discurso que escuto, no meu íntimo recito Luiz Gonzaga: “Te cala
Acauã; que é pra chuva voltar cedo”.
Nos dias atuais, a seca
nordestina revestiu-se de dados estatísticos, técnicas com índices,
porcentagens, Bolsa Estiagem, Seguro Safra, etc, etc, etc. Tudo
visando mascarar a desertificação do nosso solo, a falta de açudes,
de irrigação, de poços, da miséria do nosso homem... Tudo visando
ensejar novas campanhas humanitárias, doação de cestas básicas,
distribuição de água em carros pipas, programas financeiros
assistenciais e ocasionais... nos colocando mais uma vez como fardo
que o restante do Brasil tem que carregar.
Realmente não quiseram
entender Luiz Gonzaga e a mensagem por trás de sua arte. Mas seu
brado, nesse ano de seca, ano de seu centenário é tão atual e
verdadeiro que merece ser lembrado:
“Seu dotô os
nordestino tem muita gratidão
Pelo auxílio dos
sulista nessa seca do sertão
Mas dotô uma esmola a
um homem que é são
Ou lhe mata de vergonha
ou vicia o cidadão”.
Tenho dito.
Iweltman Mendes é
professor da Faculdade Internacional do Delta – INTA/Parnaíba