Passa Olimpíada, entra
Olimpíada e o desempenho do Brasil não melhora ou ao menos inicia
uma linha ascendente no quadro de medalhas. Há ressalvas a serem
consideradas, como ingresso pela primeira vez depois da realização
de cinco edições. Mas as causas vão além da falta de qualquer
política nacional para os esportes, da omissão quase absoluta do
brasileiro na prática de esporte. Um diagnóstico preciso é
difícil, pois nunca existe apenas uma causa para a obtenção de
resultados tão pífios.
Em Londres o Brasil
repete o nível de sempre. Após uma semana de competição, vai
caindo de posição e ocupa a 21ª. Além de estar sempre em posições
baixas, há alternância de muitas posições de uma edição para
outra. Não se mantém numa curva ascendente em alguns Jogos. Sua
melhor posição em todas foi um 15º na Antuérpia, em 1920,
exatamente na primeira participação brasileira, quando conquistou
uma de ouro, uma de prata e uma de bronze. Em Sidney, oitenta anos
após, conseguiu zerar em medalhas de ouro.
Todo mundo conhece a
falta investimento no esporte no Brasil. Nem o governo federal, nem
os estaduais e nem as prefeituras têm projetos de fato. Todos falam
que sobram projetos, apresentam números, mas ninguém consegue ver
um na prática. Dilma Rousseff deselegante, no mínimo, em dizer que
faríamos uma abertura melhor do que a de Londres. Ela tem toda
razão, seria a única chance de fazermos algo melhor. O grande
projeto esportivo do Brasil é uma brincadeira chamada de Virada
Esportiva da cidade de São Paula, realizada num fim de semana a cada
ano. Seria o projeto mais viável, mas ninguém pode esperar que se
praticasse esporte nas escolas, num país onde os professores fazem
greve por quatro meses, sem nenhuma medida do governo responsável,
como a do estado da Bahia recentemente. Muito menos a cobertura
adequada da imprensa quando a revista mais vendida do país, a Veja,
dá capa a personagens de novela e um canto minúsculo à única
brasileira vencedora de medalha de ouro.
Sobra a invenção de
desculpas para as derrotas. Os comentaristas dão logo o diagnóstico
de que falta planejamento. Fica só na abstração, nenhum menciona
uma palavra para definir o que seria isso. Passados os Jogos, nenhuma
palavra será pronunciada sobre os demais esportes, segue-se o
silêncio absoluto por quatro anos. A cobertura detalhada fica
adstrita ao futebol, com cobertura até dos campeonatos estaduais.
Algumas justificativas
extrapolam o razoável: numa Olimpíada alegaram a inexperiência de
Daiane dos Santos, então com 19 anos, mas a vencedora tinha apenas
13. Na atual, o vento colocaria em risco a integridade física de
Fabiana Murer. Os brasileiros perdem tanto nos esportes que não
temos tradição quanto nos que somos favoritos. O futebol feminino e
o masculino são prova inconteste dessa inferioridade emocional
permanente. O amarelo que anestesia a seleção feminina não é a
cor da Bandeira brasileira. E a masculina Com dois jogadores a mais
em campo, em 2000, a masculina foi desclassificada pela seleção de
Camarões. Resumindo: nunca vencemos uma medalha de ouro nem mesmo no
esporte mais praticado no país.
Pelo desempenho atual,
o Brasil será o país a sediar uma Olimpíada com o pior desempenho
na edição anterior e, por mais que haja investimento, será o
anfitrião com menor número de medalhas. A China, doze anos antes de
sediar, venceu 16 medalhas de Ouro, como sede, venceu 51. Para o
Brasil fazer o mesmo teria que ganhar 30 ouros no Rio de Janeiro.
Pelo retrospecto, a chance do Brasil será a mais bela abertura, e
só.
“Toda criança de rua
tem um responsável que a abandonou”
Pedro Cardoso da Costa
– Interlagos/SP
Bacharel em Direito